Carta sobre os Trapalhões

CARTA SOBRE OS TRAPALHÕES

Miguel Carqueija

 

Nas cópias a carbono de cartas que eu enviava a revistas e jornais (naquele tempo se datilografava e era costume guardar a cópia a carbono) encontrei um texto datado de 7 de agosto de 1991 e endereçado ao Caderno B do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, a respeito do quarteto “Os Trapalhões”. Não recordo se foi publicada, mas segue abaixo o texto na íntegra:

 

Não morro de amores pelos Trapalhões, cujo humor considero grosso e vulgar, mas quero tecer alguns reparos sobre a ruidosa comemoração dos 25 anos do grupo. Do modo como isso foi feito, é questionável.

Primeiramente lembro que o grupo que se consagrou em definitivo, virando até quadrinho e desenho, compunha-se de Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias. Este quarteto, porém, só se formou em 1974, sendo precedido pelo quarteto Renato-Wanderley Cardoso-Ivon Cúri-Ted Boy Marino, que integrava o programa “Adoráveis Trapalhões”, da TV Excelsior, iniciado em 1966. Ted Boy Marino acabou sendo substituído pela cantora Vanusa. Esse grupo era bastante anômalo e o humor girava em torno de Renato Aragão, único verdadeiro comediante. Depois ele retornou à dupla com Dedé Santana; o Mussum somou-se a eles em 1971. Em certa época, Ronnie Von também foi um “trapalhão”.

Porém as verdadeiras origens do grupo são mais antigas. Como eu disse, tudo gira em torno de Renato Aragão, que no passado era muito mais engraçado. O início dos Trapalhões remonta provavelmente a 1962, ao programa “AEIOURCA”, da TV Tupi, onde já existia o quadro dos Legionários. Os soldados trapalhões eram Renato, Dedé e um comediante conhecido como Teteco, o qual nem sei se ainda é vivo. Dedé fazia o recruta Bibelô, Teteco era o Babalú e Renato, a princípio sem nome, ficou sendo o Bambolê (os nomes eram sempre com três sílabas e dois “bês”). Dedé Santana ausentou-se de alguns programas e foi substituído por outro comediante, por mim não identificado, que fazia o Bebeléu. Como se vê há vários Trapalhões esquecidos, inclusive o Lucio Mauro, que participou do grupo em época mais recente.

No tempo do “AEIOURCA” havia também outro humorístico, creio que o “Manda Brasa”, onde Renato e Dedé faziam dupla. Essa dupla é que se tornou trio e quarteto, e agora voltou a ser trio, com a morte de Zacarias.

 

(imagem referente ao filme que fizeram com Pelé)