CARTAS DE SAUDADE (fragmento II)

 

     Querida,

     

quantos ponteiros me induzirei a retardar nos relógios da minha persistente memória, desde a última vez em que sonhei com a imagem tua pairada no meu sonho lúcido de menino despido? 

 

Mais ainda: quantos grãos de areia haveriam de subir contra a gravidade desta ampuleta velha, desde a última vez em que os meus olhos tocaram o teu riso ocular — sem boca, sem dentes, e com tanta alma?

 

A memória, ingentilmente, intensifica os espaços vãos, não ocupados, enquanto as ausências transbordam de tempo transcorrido.

 

A consciência-germe do que tu foste é perfume que coexiste ao ar... é chama sem combustível neste mundo.

 

 

(GONDIM, Kélisson. Cartas de saudade. In: Contos e Relatos: a origem perdida do/s Eu/s. 2013. FRAGMENTO)

   

Kélisson Gondim
Enviado por Kélisson Gondim em 31/07/2022
Reeditado em 31/07/2022
Código do texto: T7571879
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