O Anti-amor
Eu não preciso lhe amar para estar lhe amando. Em meio ao tempo, às idas, às vindas e todas as nossas negações, eu continuo lhe amando. Porque quando se conhece a pessoa certa ela é a pessoa certa e pronto. Isso perdura. Insiste. Retoma.
Passarão dias, e meses, ou anos. Aparecerão outras. Elas terão cheiros, formas, virtudes, elas serão elas. Mas enquanto eu for eu e você for você, continuarei lhe amando. É um amar que independe do sentimento de amor. É um amor do qual se aceita que o achou, ao menos uma vez, em algum momento, em algum breve ponto de todo um estado de ser e estar, você aceita que achou seu amor e que ele pode partir --- que ele irá partir ---, porém isso jamais apagará a última faísca que persiste acesa dentro da parte mais oculta de seu coração.
Eu nem sempre lembrei de você, eu talvez nunca procure vestígios seus em outras mulheres, nem todos os dias eu jurarei que te amo. Mas ao longo de minha existência, ao longo de toda ela, toda a existência, eu saberei os motivos pelos quais ainda a amo. Um dia teu nome me soará velho, desbotado, exaurido. Sua voz extinguirá sobre meus ouvidos. Tua face não passará de um borrão empoeirando meus olhos internos. Mas eu lhe amarei. Eu juro, eu lhe amarei. Nada riscará esse amor de minha existência.
Entretanto, hoje só lhe tenho uma unica palavra para dizer. Então, por ora, esqueça esta carta, as juras, declarações, quaisquer que sejam as doces ilusões propostas por mim. Esqueça. E por favor me desculpe. Desculpe! Desculpe! Desculpe é a única coisa que eu hoje tenha a lhe dizer.