Cartas para Ecnardo

Sábado, 25 de Junho de 2022.

Querido Ecnardo,

Como tens passado esse inverno aí no exterior? Soube haver muita severidade no frio destes ares, de tal forma que não letargia apenas ao corpo, mas também a alma. Espero que esta carta o encontre agasalhado e bem.

Bom, por aqui como bem sabes mesmo no inverno há uma certa temperança climática, onde alguns dias faz calor, enquanto outros chove e esfria. (Clima dos trópicos)

Eu gostaria muito de ter alguma novidade para você, mas tenho ultimamente estado no passado constantemente. Sobretudo quando a noite cai, parece que junto a ela desce um véu amaritúdine e ensopa-me em mornas melancolias.

Veja se não é o Benedito?!  Toda vez que a penumbra se faz, ponho-me a lembrar daqueles três cavalheiros e do que eu gostaria de poder viver com eles e não o pude. O que me dói mais é saber que fui descoberta, fui muito descuidada com algumas páginas avulsas de meu caderno de desenhos, aquelas em que rabisquei alguns modelos masculinos despidos... Sim, dois deles o viram e agora sabem do hobby que aprecio

Qual não foi minha surpresa ao saber que eles dois mantinham entre si uma relação demasiadamente íntima... O rubor sobe a minha face e me queima as bochechas só de imaginar o que devem fazer...

E no fim o ciúme que passou a queimar meu peito. Foi exatamente o fato de possuírem esse algo entre si que quebrou meu coração e cortou-me inteira por dentro. Eu que os amava de uma maneira contemplativa e sutilmente sensorial, a visão deles, o cheiro deles ao passarem nos corredores. E até mesmo o toque de um deles que inesperadamente em ocasião de meu aniversário. Ele abraçou-me tão forte que tirou meus pés do chão... Nesse dia eu quase morri. 

Enfim, tenho me lembrado com muita recorrência destes e do terceiro...

Aquele que conheci nos salões literários da baronesa Santine. Possuidor de uma voz tão calma, cortesia, bons gostos literários, só de tê-lo em imagética representação mental fico descomposta. Eu passaria dias contemplando-o folhear obras de grandes volumes. Às vezes me amaldiçoo por querer tanto aos três, vezes um ou todos de vez. Será que eu sou uma ********** por ter esses desejos? Responda-me com sinceridade meu querido amigo.

Sabe por que vivo imersa nesse poço pretérito? Por que eu jamais os esqueci e mesmo que hoje eles já não estejam  ao alcance de minhas vistas sinto-os em meu coração. Talvez seja um amor platônico desses imortais ou uma forte obsessão.

Desculpe me estender muito sobre esse assunto, sinto que os expurgando contigo(que é tão compreensivo) no papel, sinto uma melhora.

Obrigada.

🌺Afetuosamente🌺

Esperanza Floregris.

P.S.

Comecei a ler um romance muitíssimo interessante do qual gostaria de falar na próxima carta. Grande beijo.

Francisco Grandiel
Enviado por Francisco Grandiel em 25/06/2022
Reeditado em 25/06/2022
Código do texto: T7545179
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.