Não sei fazer poesia de mãe
Parece que foi ontem, me lembro "dos pão com manteiga" que me davas, o pão perdeu o gosto, e quando choravas à beira da pia por ter que lavar a louça. A herança da louça ficou comigo até hoje, detesto pratos e panelas, é meio surreal, mas também choro. A tua voz se espalhava pela casa quando cantavas e recitavas poesias de Raimundo Correa, em especial, "As pombas", o que tinha de pomba naquela poesia era sem noção. Tu cantavas com o pai, nos deixaram este legado, nenhum de nós vive sem música. Me lembro das pitorescas estórias que me contavas, eram ricas e cheias de detalhes, a Cinderela usava até talco ao se enfeitar para o baile, tinha aquela do homem que perseguia as meninas e levou uma bandeja de merengues na cara, bom demais. Nas tuas estórias nunca havia lobo mau, por vezes, alguns monstros, mas nem me assustavam, boas eram as estórias de bailes com príncipes e vestidos glamorosos, essas eram imbatíveis. Tu sabes da minha saudade e do quanto partiste cedo, isto não se faz, foi aí que briguei com Deus. Na verdade tu nunca cresceu, ficou sempre aquela fadinha, alegre, bondosa e apaixonada. Esta breve carta, escrevo por mim e por meus irmãos, somos agradecidos por tudo que nos deste, estas coisas de dedicação, carinho e afeto, as decorebas de tabuada. Que te toquem minhas palavras e todo o nosso amor. Beija o pai, por nós. Saudade, Pituli.