Entre o antes e o depois
Se como já não bastasse termos que nos construir entre a ânsia de ver o futuro chegar pelo retrovisor do que já perdemos - e não volta mais -, e a depressão de se sentir o peso do passado que arrastamos pelo amanhã e depois, ainda temos que aprender a lidar com o pouco espaço de tempo que é o agora, sem termos noção de sua duração e dimensão. Logo, nos tempos atuais, encontramo-nos adoentados por sermos responsáveis por tudo que nos cerca e causamos, quando se quer fomos preparados para estas responsabilidades. Temos, em nossa frente, mais uma etapa do que seria "o mundo é cruel".
Mas, longe de querer, novamente, apenas por o dedo na ferida, venho com intensões de tentar suavizar essa sensação de caos, de perda, de sufoco e de que a morte está na próxima esquina. Temos, para a contemporaneidade, a pressa. Entretanto, a própria contemporaneidade não passa de mais um mero capítulo que construímos como indivíduos desconexos, porém, conectados. Ou seja, essa pressa pode ser traduzida como um delírio coletivo causada por diversos fatores. Fatores estes, por exemplo, como o:
• "só se vive o agora" e o efeito colateral de desapego com tudo que você conquistou em um espaço de tempo X e se gasta 'agora', em instantes;
• os diversos modelos disponíveis de "ser ideal e realidade dos sonhos" que lhe tira a possibilidade de avaliar e trabalhar sobre o que de fato acorre;
• a não compreensão em diferenciar mais o que é deslize, erro, pausa e perda;
• a necessidade de encontrar, ou criar, técnicas que burlem a etapa de processo e haja apenas planejamento, início e gozo de resultados; entre outras tantas coisas.
Nos perdemos na expansão infinita da finitude, no quanto, hoje, há opções e mais opções de tudo em quanto, como se essas novas opções descredibilizassem as anteriores, deixando de lado todo o processo necessário que fez se dar o surgimento desse novo. E é este o ponto! O processo! Entre o antes e o depois, há o processo! E não é só um mero detalhe que pode ser burlado, é uma lei(!). Entre a vida e a morte, há você, eu, nós. E nós somos o processo de um ponto ao outro, sem ideia da dimensão e do tempo que temos nesse processo. Apenas cientes de que temos tempo e espaço. Nem Deus ignorou o processo, pois, talvez, possuísse o poder de criar o mundo em um único instante, assim, como houve um processo incompreensível de tempo e espaço para a evolução deste o Big-bang. O agora é o conjunto de períodos, curtos e longos, de um processo maior, assim como células > tecidos > órgãos > sistema > ser ou elementos > ambientes > planetas > sistemas solares > universos.
- A morte, de fato, é inevitável, mas o desperdício de viver, não.
Clara Nuvens.