Carta para minha avó

A mulher que sou hoje devo a ti! Nunca te esquecerei, à noitinha, sentada na calçada contando história para a meninada e das tantas vezes que tu compraste os “romanços” para que eu lesse para ti. Tu não sabias ler a palavra escrita, mas sabia ler o mundo e eu fui privilegiada por poder crescer em meio a literatura de cordel, as histórias e outras leituras.

Ah, vó, como esquecerei os bolinhos fritos de arroz, o beiju, o cuscuz e o café pretinho que tu fazias para vender no mercado, onde eu merendava antes de ir à escola do seu Marcelino?

A felicidade, na minha infância. era medida pelas mangas colhidas no teu quintal, pelo café quentinho com bolinho frito de arroz. Vó, a vida era boa e lenta! Nas noites de luar, a fogueira, a macaxeira assada, a brincadeiras de roda, a prosa descontraída... A vida em Santa Luzia com uma porção de coisas que eu não entendia...e agora as entendo tanto que

meu verso é um cofo

de devaneios

é a cesta da vó Neném

levando beiju e

esperança

é o cabelo branco

debaixo do torço

que conta histórias de Trancoso

é a calçada de redondilha

cantada na boca

da meninada

não aprendi fazer versos

de ricas imagens

pouco conheço

da teoria literária

meu verso nasce desajeitado

só que ele

nasce com alma.

Meu verso nasce com a tua alma, vó!

Anna Liz
Enviado por Anna Liz em 24/03/2022
Reeditado em 06/02/2023
Código do texto: T7479642
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