Eu poderia ter sido
Querido Dom,
Eu poderia sentar ao seu lado e falar sobre a vida lamentável, fumar um cigarro e rir sobre meu próprio túmulo, consigo ver-me de vestido longo preto correndo entre as lápides tentando me encontrar, queria ouvir você falando que todas as flores valem a pena independente dos espinhos, não se fira, não existem espinhos sem pétalas que sejam valiosas, Dom, o que acha do mundo? Como você me vê aí de cima? Já decidiu que roupa usará em meu leito de morte?
Reze por uma alma que não existe, não perca a paciência, as vezes eu sou legal, mas as vezes eu não passo de uma nuvem carregada que passará em breve e dará lugar ao sol. Beba um pouco de café aqui, ouça essa música e veja o pesadelo que eu posso ser, se houvesse tempo eu mostraria a você que também posso ser um sonho, mas já está tarde, melhor você dormir, afinal a semana já começou.
Veja minhas mãos, unhas de bruxa, textura de criança e cortes idosos, ninguém precisa disso, ninguém quer algo parecido comigo, eu tenho um dom, mas Dom, eu não escrevo beleza, meus olhos secos não percebem cor, exceto o cinza e o púrpura, a água da chuva hoje está roxa, as folhas do limoeiro estão cinzas, aquela maldita goteira não para. Tec.....Tec.....Tec... TEC.
Olhe para meus olhos, não existe brilho, esqueça isso e vamos beber café, olhe esses pássaros, são livres disso tudo, tudo de humano estraga o mundo.
Acha mesmo que toda flor vale a pena ser cuidada? Que devaneio.
De Púrpura.