Carta para Tamar (3)
Lavras, 21 de novembro de 2007
Querida Tamar,
Só hoje, sua carta de 06 de novembro chegou aqui. Pelo carimbo, foi postada no dia 07, o que significa que o nosso correio anda bem demoradinho, não? Duas semanas é muito tempo. Acredito que ele já tenha sido mais eficiente. Compreende um pouco porque prefiro as comunicações virtuais? Mal acabei de receber, e enquanto faço um pequeno descanso após o almoço, aproveito e já estou respondendo.
Dê parabéns a Sofia. Interessante, nunca vi um aniversário regado a bingo. Imagino que seja um acontecimento muito especial. Você deve ter se divertido muito ao confeccionar os brindes. Vou guardar essa idéia para usá-la um dia. Estou até imaginando aqui, utilizá-la nas oficinas de artesanato desenvolvidas pelo meu Departamento. Seria uma forma diferente de vender os trabalhos das crianças e conseguir recursos para novos trabalhos. Uma das funcionárias do Departamento, responsável pela parte de artes plásticas, tem feito construções incríveis com as crianças, não só utilizando material reciclável, como produtos naturais.
Bem Tamar, mudar de nome não é algo muito comum. Você é uma mulher incomum, mas a maioria das pessoas é constituida por pessoas comuns, daí a dificuldade que elas têm em aceitar que você escolheu mudar de nome. Eu não tenho este problema porque gosto do meu nome. Mas acho que se não gostasse, mudaria também. O meu problema é outro: as pessoas que não me conhecem bem me chamam sempre por outro nome. Não há um padrão, mas o mais comum é Maria Emília. Meu nome e minha história estão indelevelmente ligados. Não me vejo com outro , herança que é das duas avós. O engraçado é que para algumas pessoas sou Maria, para outras Olímpia. Uns poucos me chamam de Pia. Mas há um nome especial, que gosto que me chamem. Merô. O interessante é que foi um apelido que pegou apesar de ter sido colocado em mim já adulta. Coisa de criança, sobrinha que naõ dava conta de pronunciar meu nome. Bem, você diz que acredita que os nomes têm que ser coerentes com a religião que adotamos. Eu sendo assim eu estaria frita. Meu nome remete aos Deuses e a sua morada e não há ninguém no mundo que acredite menos em alguma coisa que não seja racional do que eu. Apesar de gostar da fantasia em meus escritos. De mortos que falem com os vivos.De bruxos e bruxas. De animais fantásticos. Acho que gostaria que tudo isso fosse possível. Mas não é. O que realmente é indiscutível para mim é que toda causa tem um efeito e que todo efeito se torna causa de um novo efeito. Nada sai desse esquema.
Aqui também o vento é uma constante. Frio e chuva se alternam com um calor de rachar. Mas hoje está sendo um dia especial. A temperatura está amena, o vento nada mais é do que uma brisa que me lembra o litoral e a única coisa que destoa disso é o trabalho que sempre se acumula nos finais de ano e acaba deixando a gente tensa, sem muitas condições para aproveitar esta belezura. Daqui até o final de Dezembro estarei enfrentando uma maratona de eventos que me deixa cansada só de pensar. Se fosse só o evento em si, seria ótimo. Mas é preciso preparar, assistir e depois colocar tudo no lugar. Preparar a festa, festejar mas depois limpar a casa. Não sei como consigo tempo para sentar aqui no computador todos os dias, para ler e escrever.Estou com uma febre escrevinhadora, retomei a construção de meu terceiro romance, Os filhos de Abud, que estava parado há dois anos. Além disso outros livros meus estão em andamento, sendo um de poesias, um de contos, e um de cozinha. E vivo rabiscando o tempo todo. Apesar de não ver nenhuma perspectiva de publicação, principalmente porque existem duas coisas que não faço: correr atrás de editoras e gastar dinheiro de meu bolso para editar meus livros. No fundo, no fundo, eu mesmo acho que sou muito esquisita.
Enquanto escrevo já atendi um sem número de telefonemas para resolver problemas de serviço. Acho melhor parar e ir trabalhar. Despeço-me com um beijo de admiração por ser você uma pessoa tão corajosa e autêntica.
Até qualquer dia, amiga:
MO,