Vermelho é o cinábrio ou "borderline"
Por que um céu fica vermelho de vez em quando?
Certamente não é por ser irmão mais velho da lua.
Afinal, pouco de humano têm. Mas, emocionalmente vendo, de fato é incompatível o branco guarda-chuva do céu desalentado, presente de melancolias, ser relativamente responsável pelo possível ruborizar da grande pavimentação primaveril vermelha de um dos caminhos da vigília sóbria.
É reconfortante emprestar humanidade...
Talvez pela máquina humana ser uma prisão perpétua e sem escapatória.
Um importante fundamento seu, por si só, é feito de amálgamas, como que, estáveis. Mas para uma certa estirpe; ignorando qualquer abertura, oportunidade ou circunstância lexical, há de ser definida no sentido exato.
Quimicamente uma amálgama compõe-se de dois metais, geralmente, um deles sendo mercúrio.
Uma porção de humano, involuntariamente, é social, é dividido.
Um beijo, humanamente, é uma amálgama, tal qual conversa, sexo, olhar, amor...
É dito também que o mercúrio é volátil e facilmente afetado termicamente, por conduzir mal o calor...
Calor é movimento... Agitação...
O mercúrio sozinho, parado, não interfere e nem age diferentemente do que se poderia esperar de um metal líquido e morno.
Mas muda com a amálgama...
Dois metais se entrelaçam, se submergem, se participam, se dissolvem.
Se nessa amálgama um deles é estável, assim comporta-se o mercúrio. Parado, só, sólido, quietinho... sem o constante esforço de manter uma gota prateada inteira, sem se importar com uma possível coloração acobreada, dourada, opaca que toma...
Mas quando há agitação, e se esta for termicamente relevante para o mercúrio, nada muda para o cobre, ouro, prata... mas não é difícil imaginar o que acontece.
Distância é movimento, distância é esforço e calor.
O mercúrio corre.
A amálgama desmancha, abandona-se.
E se, por falta de piedade, por acaso, por maldade ou tenebroso abandono, o mercúrio ecoa em si o calor...
Volátil...
Diz-se que mercúrio dá câncer.
Então por que nasce-se com rio dele correndo por si? Se chamando sangue? Se fazendo importar?
Por que deixar que solte, em dose de floral, em quantidade homeopática, essa névoa terrível e densa pelo corpo?
Por que deixar que meu peito, minhas pernas e minhas mãos fiquem tão pesados?...
Já não bastou me dar a sede, a fome, de outro brilho metalizado dentro do meu coração?
Por que tira-o de mim quando encontro? Brilhante e completo?
...
É possível ter mercúrio até nas extremidades do corpo?
Por que tenho-o nos pés? Nos pulmões, na sola do calcanhar?
E se for impossível, se eu não o tiver... Por que esse desespero? Por que essa dor? Esse pulsar agudo em cada centímetro de mim? Qual a outra alternativa?
Por que essa retroatividade em fazer do gás que me envenena também ser a força motriz principal? Ainda mais se é o único produto secundário das minhas relações...
Nada fez a lua para que ficasse o céu vermelho.
Nada fez o cinábrio para o sangue limítrofe.
Certo?