Carta ao Manuel Maria de REMOL - 45 - "Mensaxe a Xohán Casal"
"Ouh Joám Casal, amigo e, mais que amigo,
irmão: estou só e lembro-te ...!
Lembro o teu fervor pela amizade,
pela Galiza, pelos sonhos perdidos,
pelas estrelas, pelos sapos,
pela vida, pela morte ..."
Assim começas, Manuel, a tua mensagem
ao irmão Joám, narrador da solidão e da morte.
Só, caro Manuel, outro "só", António, como eu,
Nobre, como tu, como as pessoas decentes,
poetizava ... "Paz!
"E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inutil, crê! Tudo é illuzão...
Quantos não scismam n'isso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!
"Mas a Arte, o Lar, um filho, Antonio? Embora!
Chymeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do além e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha unica afflicção...
"Toda a dor pode suspportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva... essa que traz...
"Mas uma não: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar n'esse convento
Que ha além da Morte e que se chama A Paz!"
Desculpa, Manuel, que interrompesse
a nossa conversa epistolar para pôr e dispor
o poema "Paz" do Nobre António, mas continuo
contigo e contigo acabo o poema, este que não é:
Como relembro, na minha soidade,
a tua amizade, amigo meu, a luz
do teu exemplo sempre em alto."
Como lembro e relembro a tua pessoa, Manuel!