Caixote

Não é como se estivesse tão deprimida ao ponto de não conseguir levantar, nem mesmo tão fraca ao ponto de meu corpo cair sob minhas pernas, mas sim, como se minha alma lutasse constantemente contra as paredes de pele, afim de se livrar da vida, que agora parece uma prisão.

Nunca gostei da ideia de crescer, queria ser idependente sim, mas crianças nunca pensam no lado ruim das coisas.

Minhas verdades pareciam mentiras perante as autoridades, e o conforto não existia, era dito ''caminhe sozinha, porque só assim voce viverá muito'', não confie neles, mas confie em mim; não fale com eles, mas fale comigo e por mim; ninguém precisa saber o que acontece na sua casa. Por um lado, isso é correto, parece atraente, mas por outro... Eu era só uma criança que precisou aprender a se virar sozinha, a crescer antes de ter uma infancia.

Um abuso, não é abuso se voce não chorar, um trauma não é trauma se voce fingir que nada aconteceu, sua mente pode continuar lutando, mas seu corpo adoece.

Você definha, não sabe receber afeto nem apoio, tudo vira uma grande critica, e, quando você menos espera, não tem mais sonhos, não tem mais brilho, não tem mais forças e todo mundo te perguntar o porque da sua cara fechada.

Seu sorriso se perde, e aquela coragem que diziam, na verdade não passa de solidão disfarçada de força, armadilhas. Doces embaixo de um caixote, só esperando você se imaginar comendo, para finalmente cair sob voce e se ver somente escuridão ao seu redor.

E é la,é la que você entende tudo.

Que você era sim uma vitima de falsos superiores que não davam lugar, que te moldaram tanto ao ponto de voce não saber mais quem é.

Você cresce e ve que a vida põe na sua frente tudo que deseja, e tira antes mesmo de você agarrar, e que, na verdade aquilo nunca esteve ao seu alcance.

Eles dizem, Deus é bom, Não era para ser, era para voce evoluir.

E agora com 19 anos, tenho mais paginas rasgadas, amassadas, com escritas em todos os lados, com historias que não deviam ser minhas. Histórias que não deviam ser escritas nas minhas linhas. Histórias que deixariam o leitor tão aflito ao ponto de largar esse livro de lado e descarta-lo o quanto antes.

Eu não sei quem eu sou, tudo que compõe esses litros de sangue, são coisas desagraveis das quais não sei viver sem. E tenho medo, de me livrar das amarras, medo de não saber mais como viver.

Viver fora do automatico, fora das risadas razas, fora da agonia.

Eu abracei a confusão, e agora minha procura constante, continuam sendo mais e mais confusões e traumas para alimentar a escuridão do caixote.

Desse maldito caixote que caiu sobre mim, quando agarrei os doces.

Doces que não passavam de miragens, que minha própria mente criou.

kty maciel
Enviado por kty maciel em 29/01/2022
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