Carta ao Manuel Maria de REMOL - 29 - "Fala calquera galego"
Manuel, por que neste poema desconfessas
a tua desfé na Terra que tanto amas?
"Eu tenho que ir embora, que deixar
esta velha Terra, esta Mãe
que leva séculos dormindo
sem acordar nunca do seu sono,
sem escutar a voz dos filhos
que anseiam despertá-la; Ela
continua dando-se ao alheios por nada,
continua entregando-se aos que
não a compreendem nem a amam.
Continua dormindo. Sempre dorme.
Sempre. Semelha que nunca cansa
de dormir, que é eterno o seu sono." (p. 64)
Por que essa angústia e desesperança,
Manuel Maria, caro poeta que estás no céu,
que no céu sem dúvida vês o que na terra,
na Terra parecias não ver. Não achas que
cada vez que cantamos o Hino da Galiza
sofremos a pancada da Terra que nos berra,
que nos grita e que nos sussurra até
aquilo sublime "Desperta do teu sono, Fogar de Breogão"?
Eu quero crer que, se a seguir parecemos dormitar,
é por aqueloutra peçonha dormitiva que os inimigos
das almas nos injetam pelos olhos e pelos ouvidos e mesmo
pelo olfato e pelo gosto e pela pele toda até ficarmos alcatroados,
sem remédio possível. Manuel, intercede por nós perante Santa Isabel
de Portugal. Talvez os poderes milagreiros da Santa peregrina nos salvem ...