Carta ao Manuel Maria de REMOL - 27 - "O autor fala de si"
"Sou terra. Eu estou feito de terra ..."
Por que, Manuel, não escreves Terra,
em maiúsculo, e mesmo TERRA,
a palavra inteira em maiúsculo?
Igual pergunta vai para "amor",
outro elemento do teu ser ... humano?
Porque não me quadra "amor" e "O meu
coração é um penedo que só pode fender
a dinamita". Sim, sei que os poetas brincam
nas antíteses, nos paradoxos, nas contradições,
mas acho surpreendente retórica e mesmo violenta esse
"O meu sangue é um regueiro, um rio, um oceano que canta ..."
Ah, a canção, sempre a cantiga, de amor?, de amigo?, de escarnho e
maldizer, mal dizer!! que se enfurece!!! Parecia impossível, absurdo e
inefável o poema (leio para mim, conhece-lo bem e os estranhos podem sem
reparo ler pela sua conta ...), mas é certo, certeiro e quase mortal. Termina-lo,
extermina-lo: "Os únicos que sabem de mim são
os da Fazenda. Os outros, nada". Eu, ingénuo, imaginava que te entendia ...
Não en vão dediquei umas 400 páginas a comentar profundamente (?)
os teus três poemários que publicaste em (quase) português.
Mas agora descubro que, trás tanta letra, não sei nada de ti, nada, nada, nada ...