Matemática

"(...) você se apaixonou pelo nosso par. Mas eu já te amava como ímpar."

Dedicado a todos que já amaram ímpar alguma vez.

Faz três dias que tento escrever essa carta. Mas na verdade, eu já nem me lembro a quanto tempo quero te falar essas coisas.

Imagino que seja uma supresa pra você receber notícias minhas. Sei bem que, depois de tudo, sou a última pessoa de quem você esperaria receber uma carta. Principalmente uma carta pra falar de nós.

Apesar da nossa história ser antiga, eu sinto que nunca pude te falar tudo que sempre esteve entalado dentro de mim. Tenho muitas palavras não ditas, muitas perguntas não feitas e diversas declarações não dadas. Mesmo que, te conhecendo como eu conheço e sabendo que você provavelmente não se importa tanto com essas coisas, acho importante dizer.

Porque não é só sobre você. É sobre mim.

Preciso ter a paz de saber que não deixei nenhum arrependimento por não ter dito e feito o meu melhor por nós. Mas, por favor, não estou lhe enviando essa carta como um pedido de outra chance.

Não. Nossa história já teve seu fim, e tudo que eu pretendo fazer agora é colocar o último ponto final.

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Eu gostaria de poder dizer onde tudo mudou. De verdade. Queria poder olhar nos seus olhos, quando você me disse que as coisas estavam diferentes e entender exatamente sobre o que você estava falando. Mas eu não sabia. Porque pra mim, tudo continuava bem. Continuava suficiente.

Sabe, você me destruiu um pouco naquele dia. Ouvir que você estava cansado da nossa rotina, me fez imaginar o porquê de você estar enjoando de nós, de mim.

Me peguei questionando tudo o que eu já tinha feito, e procurando onde eu tinha errado, onde eu não tinha feito o suficiente pela gente. E quando eu fiz isso, percebi em nenhum momento, me perguntei se poderia ter sido algo que você fez ou deixou de fazer. E foi aí que eu entendi.

Eu sempre te amei demais, muito além do que deveria. Te amei primeiro, te amei por mim e por você. E sempre achei que mesmo que você não me amasse na mesma intensidade, aquilo já bastava, e que um dia, você olharia pra mim da mesma forma que eu te olhava.

Que você observaria meus pequenos detalhes com o mesmo carinho que eu observava os seus. Que você pensaria em mim durante o dia, e sorriria feito bobo quando falassem de mim, assim como acontecia comigo quando alguém te mencionava.

Mas é aí que estava o meu erro.

Eu aceitei nosso relacionamento baseado na ideia do que ele seria um dia. Na visão de que nós seríamos incríveis.

Eu gostei tanto de você, que ignorei todos os alertas de perigo que estavam a sua volta, e Deus sabe que não eram poucos.

Pulei no precipício dos teus olhos castanhos, porque achei que você estaria lá embaixo, sorrindo e me esperando.

E realmente, quando eu pulei, você me segurou.

Você fez de tudo pra ser o namorado dos meus sonhos.

As pessoas olhavam pra nós e me diziam o quão sortuda eu era por ter você. Você procurava fazer tudo que um bom namorado faria. Um quase príncipe de conto de fadas. Nossos amigos diziam que éramos lindos juntos. Você dizia que nós éramos lindos juntos. E é verdade, nós éramos.

O problema, foi você só nos achar bonitos juntos. O problema, foi só eu ter pulado.

Você gostou de ter o nosso relacionamento, gostou da forma que você se sentia comigo, das coisas que eu fazia pra você, gostou das coisas que você fazia ao meu lado.

Você se apaixonou pelo nosso par, mas eu já te amava como ímpar. Você se apaixonou por nós, mas eu te amei. Dói saber que o meu ímpar não foi o suficiente pra te fazer ficar.

E foi por isso que não demos certo.

Relacionamentos são complicados e muitas vezes cansativos. A razão por não desistirmos deles, é o que sentimos pelo outro de uma forma solo. Esse amor pelo ímpar, nos faz resistir e lutar pelo par.

Você cansou, porque não tinha a unidade certa pra ficar.

Quando eu comecei a escrever essa carta, eu percebi que mesmo que no final, tudo tenha se resumido ao nulo, você deveria saber que foi o meu ímpar preferido, e que eu daria tudo pra que o nosso par fosse infinito.

Hoje, eu percebo que nosso par nunca foi infinito.

Nós dois formamos um conjunto irreal, uma função sem resposta. Mas mesmo assim, eu te agradeço. Porque apesar de toda dor, e de todas as feridas, eu tenho uma nova chance. Uma chance de viver e cuidar do ímpar que deveria ser o meu preferido: eu mesma.

Agora eu cuido de mim, priorizo à mim, e sabemos que eu não poderia fazer isso com você. Tu me deste a chance de crescer e me multiplicar.

Te agradeço por isso.

Não pretendo mais ignorar a lei matemática que diz que não importa a grandeza do seu número, se multiplicá-lo por zero, será zero.

E daqui pra frente, conjuntos de amor ímpar não fazem mais parte da minha equação.