Carta ao Manuel Maria de REMOL - 23 - "Onte, dezanove de marzo ..."
Ó Manuel Maria, poeta da Terra e das almas
do Povo, dos lugares e vilas e aldeias,
que viveste e percorreste em tempo e em coração:
"A gente continua a emigrar e não fica
ninguém na nossa Terra". Triste, vejo-te,
lamentas, envolvido no silêncio,
que tua mãe não pare de se laiar.
É a sina da Galiza, das gentes galegas:
por vezes emigraram belicosos, vitoriosos,
por vezes, as mais, fugiram da fame
e da morte em vida a que as submeteu
(e submete) o "reino del bourbon",
antes da II República, durante a República
e depois da República, durante a ditadura
de assassinatos seletivos ... até 200.000
passada a guerra internacional "española"
do nazi-fascismo contra a Democracia ...
Hoje os neonazis não assassinam ...
corpos, mas sim almas, cérebros
e corações, pensares certos e sentires
humanos, só humanos. Tu, Manuel,
refugiaste nas lembranças, talvez para
esquecer o que a casa de Roibás, a barbearia
de Paderna, a farmácia, ... guardavam
e tua mãe narrava, evocava, doía-se,
imersos na tua fundíssima tristura,
da leira, do campo, só, ermo, abandonado ...
Aqueles bens que foram da tua família,
da tua avó entre os rumorosos ecos
do rio Minho e dos regos que o acompanhavam ...