Sofrimento: oportunidade de um vínculo com Deus

Não queremos sofrer. Não gostamos da ferida que nos machucou, da dor que nos angustiou. Hoje é um dia muito especial. É a segunda vez que celebro devidamente uma liturgia dedicada aos nossos queridos amigos, irmãos, parentes, nossos amores que partiram para o Céu.

Dói. E hoje dói de forma profunda. Pois eu não parei devidamente para sentir o luto do seu silêncio. Eu só vomitei no telefone um momento de desespero. E ele passou. Você me pede para não te procurar, não escrever, o "não" ao nada. Para o nosso bem mútuo você instalou uma frase difícil de digerir. E é tudo que eu tenho de você. "Silêncio... Você não precisa fazer isso. Não precisamos sofrer mais".

Não acabou a vida. Pois vivo estamos. E nascemos para isso mesmo. Para uma vida que demoramos pra entender. Demoramos a aceitar uma vida eterna que já temos. Nos distraímos tanto em meio aos nossos momentos difíceis que afogamos as coisas e pessoas que amamos mais, por não entendermos e não aceitarmos a dura realidade que nos aprisionou durante anos.

Eu fui refém de mim mesmo. Você viu. Se deparou com meu grito mais alto: por que me abandonas? Por quê? E segui em frente. Continuo vivo, juntando os pedaços que eu mesmo quebrei dentro de mim. E infelizmente meu berro, minha violência foi tão grande que atingiu algo que adormecia em você. Algo que não foi devidamente tratado. Eu te sequestrei e hoje nem comigo está. Me enganei por completo. A culpa não é minha, não é sua. É nossa. Por termos aceitado migalhas de amor durante a vida. Caminhamos na estrada de Jesus, mas não com a liberdade. Pois nós acostumamos a nos escondermos. Eu nas drogas, nos hábitos, nas carências. E você? Não importa onde ou como.

Acredite: isso aconteceu com a humanidade, produtos do meio em que vivemos... Talvez por isso tentamos (em vão) criar momentos bons com pessoas adoecidas. E ficamos cutucando uma ferida que já deveria ter sido tratada por Jesus. Não entregamos, pois nós nos acostumamos com a interferência externa. Eles não sabem o tamanho do vazio que temos. Mas sabem que não estamos bem... E somos invadidos por vozes dissonantes que nos sufocam.

No meu e no seu "eu" particular temos a cura disponível. O tempo para nos ajudar, a juventude que passou, mas continuamos novos, pois o Evangelho de Jesus Cristo se renova, a mim e as nossas esperanças. Eu vim hoje te dizer que por mais que queira o meu silêncio... Eu continuo dentro de você. E você em mim. O afeto dá só um verniz de acabamento só. É difícil desapegar.

Entendo que temos processos e experiências diferentes. Famílias com estruturas e características distintas. Eu quando voltei para me curar na Fazenda deixei claro para que voasse. Mesmo hoje te querendo tanto, com muito vigor sei que é melhor a cura de cada parte da história.

Meu Amor, não olhe para quem a acusa de culpada ou responsável. Seja você e aja com sabedoria. Nossos piores agressores não estão longe. Ficam instalados dentro de nós, distorcendo tudo. Um ruído fica corrompendo o carinho e provocam dissensões. O afeto que existe, passa a ser ofuscado. Criam os vínculos obsessivos. Ninguém respeita mais ninguém. Por isso eu falo, sem pecar pelo excesso ou redundância; faça de tudo para si, ame a si e reconheça Deus em você. Assim vai reconhecer a centelha em cada ser. Até em mim. Vai se olhar no espelho, ver sua beleza e lembrar: meu primeiro amor sou eu. Esse Deus que irradia de você é o dom primordial. Uma emoção vai emergir. E sinto muito não estar contigo para ampará-la quando estiver frágil... Mas, Jesus estará!

Vai também sentir saudade. Muita. E a saudade dá a dimensão da grandeza do Amor. Se eu amo você, Mariana... Eu amo a mim também. Sem projeções, mesmo semelhantes, você tem muita diferença e isso dá o encaixe para que nossas vidas se encontrem e sintam-se bem. "Ela quer o meu bem. Mas quer se cuidar". " Não é o fim. É o recomeço para ela e para mim". Cada um com suas amarguras e peças quebradas. Distância, contextos, família... Muita coisa, em pouco tempo. Uma bagunça. Carências. Coisas que ficaram longe de qualquer controle. Por isso eu também faço agora minha despedida. Sem pedir nada. Ou pedindo simplicidade, só... Assim:

Persevere. Seja sábia. Use suas ferramentas. Estou adquirindo as minhas.

Ambos precisamos aprender a respirar melhor com nossos pulmões, sem usar os aparelhos que facilitam. Antes que matemos o amor que precipitou em nós!

Uma grande mulher disse que precisamos plantar as sementes que queremos ver crescer. Essa semente é de Paz, esperança e amor. Ainda acredito em tudo. Por isso rezo sempre.

Até logo...

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