Ao papai de Maria Luíza

Num fim de semana de feriadão, vésperas da celebração dos primeiros dois meses de vida de Maria Luíza, alegre pela vinda do pai que veio ver a filha, escolho reler um texto breve de Epicuro, a Carta a Meneceu (ou Carta sobre a felicidade, Ed. Unesp).

Correndo o risco de transformar uma reflexão mais densa em um comentário que beira a auto-ajuda há um trecho que gostaria de partilhar:

"Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir mais".

Epicuro (341-270 a.C), nesta breve sentença, parece mais contemporâneo do que nunca. Em tempos muito próximos de nós as reflexões deterministas produziram um discurso da inevitabilidade. A idéia de que a vida é imponderável apenas reforça nossa angústia e nossa responsabilidade diante de escolhas contínuas e cotidianas.

Nada esperar não significa nada fazer. Da mesma forma, invertendo a sentença, tudo fazer - prática de um discurso utilitarista - não significa obter. No intervalo entre as duas coisas espanta-se o imobilismo, a comodidade ou o desespero que agregamos ao nosso cotidiano.

Não há catástrofes nem redenções prévias: tudo por fazer, sem qualquer forma de garantia. Eis o fardo das escolhas humanas e a beleza que torna a vida única e irrepetível. Por tudo isso, rejubilo-me com a presença de "papito" junto a nós mesmo tendo eu recusado mais uma vez seu pedido de casamento.

BiaSil
Enviado por BiaSil em 11/11/2021
Reeditado em 13/11/2021
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