Desculpe a franqueza, amigo.
Belo Horizonte, 15 de novembro de 2007
Meu estimado P.,
tenho percebido seu olhar de soslaio, de viés. Basta eu chegar no ambiente, que você logo se levanta. Que mal te fiz? Está olhando o quê?
Estamos em lados opostos desde que o mundo é mundo, mas isto não pode ser o motivo para essa animosidade. Não dizem que opostos se atraem? Em mim haverá sempre um espaço reservado para você. Relaxe - de mais a mais, relacionamento sem atrito não tem a menor graça...
Você alega que sou instável, mas o imprevisível é você. Se sou ávida na aproximação, você se desarma. Se quero diálogo, você se recolhe. Se desisto, você se anima. E essa mania inconveniente de brincar fora de hora, ts, ts, ts...
Dizem as más línguas que tenho inveja de você. Sem querer ofender, pergunto: inveja de quê? Nem bonito você é... Vive recolhido num lugar apertado, seu melhor amigo é um saco, freqüenta recônditos de reputação duvidosa. Só na sua cabeça tamanho é documento... Quando se arvora a tomar decisões, a coisa fica preta: a lógica dessa cabecinha é ilógica! Ah! A mania de só se interessar por filmes pornô já está passando dos limites...
Não te quero mal. Ao contrário, tenho-lhe enorme simpatia, admiro a sua sensibilidade, senso prático, perfil objetivo. Cobrança de resultados não deve ser mole... Você se safa bem: nas horas mais tensas, tira o corpo fora. Sempre tive atração por você e aprendi a buscar sinais óbvios se lhe agrado. De sua parte, você nem disfarça o egoísmo. Satisfaz as suas necessidades e some sem pudores...
Você se acha o máximo, mas pode ir baixando essa bola. Você não passa de um maior abandonado carente, sempre ávido por carinho... de qualquer espécie.
E por favor páre de me olhar torto, como que condescendente. É puro exercício de lógica dedutiva: se você cabe em mim, eu sou a maior!
Poderia me despedir com um beijo. Mas é capaz de você se animar em demasia, esquecer todo esse sermão e ... melhor não!
Não me leve a mal, estimado Pênis.
Precisava desabafar. Hasta la vista.