Apegos e desculpas
Digo-lhe: "errar é humano", mas nem todo erro é natural. Desculpar-se deveria ser normal, entretanto, é mais prático perdoar os outros, pois, acreditar naquilo que não temos certeza é mais fácil. E assim cometemos um erro sem métrica; criar desculpas por quem temos certos apegos. E num futuro não certo podem surgir pensares: "as pessoas as quais mais confiei foram as que mais me decepcionaram". Logo, encontrar-se num emaranhado infeliz não será difícil, baseando-se no lamento - "em quem eu devo acreditar?". Então, tudo fica turvo, embaraçado e complexo. Havendo uma só certeza: "eu não deverei ter...". Assim, no fim das contas, nos sentimos sós.
Apegos e desculpas são os ingredientes certos para futuras complicações. Por vezes, deixamos escapar o filosofar - "...permanecer no erro é burrice". Mas como ir contra o mito da esperança e admitir que algumas amizades morreram tão de repente? Como sair da zona de conforto de que ter esperança é a única salvação; não sendo ela mais uma das pragas malditas da caixa de Pandora? Como abrir mão de umas das poucas coisas na vida que nos conforta, às vezes, em forma de amizades? E assim se desenha a resposta, pois, se para algo há dúvidas para uma certeza, não há certeza.
A individualidade é mal vista. O egoísmo é vilão. A solidão é infelicidade. Mas o quanto isso está em segundo plano com tantas amizades? Redesenhar a individualidade e compreendê-la é conhecer seus limites, suas motivações e conceder-se o direito de reavaliar. Ser egoísta é por na balança o que vale mais no momento de decisão, se é a autopreservação ou o sacrifício de ceder-se aos caprichos do outro. Estar sozinha é enxergar que você tem a si para dar apoio, porém, por vezes haverá a sensação de falta de alguém para ajudar naquilo que não dá para se resolver sozinha, então o outro têm valor; entretanto, o contrário também se faz presente, pois o outro pode ser insuficiente ou ausente, então você terá você.
Não estou endereçando-lhe ao ceticismo, mas, por vezes, vale o esforço da crítica, do duvidar, do desapegar-se, não criar nada e apenas aguardar. Toda boa relação é recíproca, não pelos mesmos valores, objetivos e, algumas vezes, intensidades. Da mesma forma que você pode falhar em momentos críticos, o outro lado também pode. A diferença estará na reparação de cada feito, de cada momento, através de um esclarecimento, de tentativas de conserto. E se no fim não tiver mais jeito, não crie desculpas para continuar o apego, use sua criatividade para dar vida ao encerramento do arco e parta para a próxima história. A morte pode se dar sem avisos. E se foi decisão sua, desculpe-se, talvez as coisas não convinham como você queria. Tenha em mãos as rédeas de sua vida.
Com um saudoso abraço,
Clara Nuvens.