O adulto não tem mais tempo para a juventude
Paciência. Não é uma dádiva. É algo... diferente! E, diferentemente do que pensam, não é espontâneo! Não é questão de ter em si quantidades altas ou encontra-da ameaçada em extinção, tornando-se raros os eventos em que se possa ofertar. Paciência é como um estado, uma emoção, pois, quando você está feliz, infeliz, zangado, amando ou mesmo desesperançoso, estressado, a forma como as coisas vão acontecendo, você reage de acordo esse estado, essa emoção. E o adulto não tem paciência para o jovem, para o novo.
Eu entendo a sua angustia quando diz "a mãe/filha e pai/filho não me entende! querem que tudo seja feito do jeito deles, na hora em que eles querem que ocorra. mas eu não me sinto obrigado a obedecer!". É completamente aceitável pensar assim, agir assim. Quem é que quer fazer parte de uma relação "abusiva"? Ninguém! Ninguém, pelo menos, num estado "mediano de vida"; abre-se esse parêntesis. Com tanta liberdade, tanta possibilidade, a gente quer o melhor entre essas possibilidades. Mas é a gama, a riqueza dessas possibilidades que fazem e dão início ao abuso, a impaciência. E nós não estamos sabendo lidar com isso.
Então temos a noção de experiência como pilar do problema. Para um adulto que já possui vários registros em experimentares e para ele os resultados de cada experimentar já estão claras e nítidas, o jovem, por outro lado, tem, ou não, possibilidades zero e noções superficiais de resultados, mas pouca ou nenhuma decisão estabelecida sobre os eventos em ocorrência. Porém, o adulto faz questão de apagar a parte do processo que fez ele decidir o que decidiu como reação instantânea para os eventos da vida. Não é à toa quando algo está fora dos conhecimentos do mais velho, ele se torna mais paciente naquele momento; é o vislumbrar das possibilidades e nenhuma decisão. Salvo as ocorrências em que ele tem pressa ou vontade nenhuma de aprender (ausência de vislumbres de possibilidades). Só isso já faz uma diferença exorbitante de como se enxerga o mundo.
Essa distorção e desequilíbrio na visão de mundo causa problemas na forma do comunicarem-se, na expectativa um para o outro, em se conhecerem e se relacionarem. Isso acontece de forma natural, pois, os projetos de vida na etapa da idade de cada um são diferentes. Logo, se não há equilíbrio e diálogo que busque diferenciar o que cada um deve fazer por si e o que ambos devem fazer pela família/amizade, o que fica é tomar decisões equivocadas na ausência de conhecerem e saberem o que realmente diferem um do outro e se topam formar aliança para um objetivo compartilhado. Aí você pensa, "ah, mas eu tentei". Tentou conhecer ou tentou provar que estava certo sobre o que pensou? Ou tentou fazer com que o outro se submeta as suas decisões, a sua visão? Tentar é dar oportunidade, é sair da zona de decisões e tentar vislumbrar por outro ponto, mesmo que o resultado seja o já esperado, o pretendido.
Por fim, talvez seu pai e sua mãe não tenham paciência com você porquê, para eles, há provas suficientes de que você seja exatamente o que eles pensam que seja. E isso não é uma defesa para eles, mas você já parou para tentar ver do ponto de vista deles? Quantas amizades, decepções e planos eles abriram mão? Quantos machucares, quanta história, sofrimento eles tiveram na vida deles? Então, se você não pensa sobre isso porque está ocupado de mais tentando se conhecer, por que eles tem que ter paciência se você não está tentando conhecê-los? Existe a possibilidade de que eles estejam apenas replicando o que eles tiveram na vida deles, a cobrança sem haver diálogo, sem haver opções. Não é fácil tentar ensinar os outros, mas você tentou quebrar o ciclo ou apenas está cobrando também? A vida pode ter tirado deles o tempo de querer aprender o novo, conhecer a juventude.
Ou talvez você não entenda sua filha ou seu filho. Viver os dias atuais não é fácil! São mais pessoas, mais opções, uma enxurrada de cobranças de vários adultos e para cada coisinha, uma caralhada de pré-requisitos. É como estar mergulhado em uma realidade sem garantias. O jovem foi posto pra testar uma montanha russa da qual ele não tem a opção de pedir pra parar, só tendo descanso quando ele tá em estado grave, mas a qualquer sinal de alta, põe no carrinho novamente. E para cada coisa nova, "ele já deveria saber, pois o conhecimento está aí, de fácil acesso" ou "porque na idade dele eu já tinha feito isso ou aquilo". Aí não pode abandonar, se não pode ir preso. Então a solução é despejar o estresse pra "acordar o jovem para a realidade", apenas demonstrando a total 'falta de tempo' pra poder ensiná-los, fazendo com que erro deles seja uma gatilho do trauma da própria vida pra se fechar para outra tentativa.
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Abraços da desocupada e paciente, Clara Nuvens.