Carta de não querer mais amar você
Meu querido amor,
Não aguento mais fingir que você não significa praticamente tudo para mim. Não suporto mais ficar me escondendo, com medo de esbarrar em você. Te tratar com indiferença está acabando comigo, que não consigo fingir mornidão.
Eu sei, não deveria estar dizendo tudo isso.
Por muito tempo, eu deixei escondido, com medo de admitir. Venho lutando contra mim mesma por tanto tempo, fingindo que não me importo com a sua ausência, forçando uma paz que não existe em mim. Tudo está confuso. Eu sei que disse que tudo ficaria bem, que poderíamos ser amigos, mas eu menti. Não está tudo bem. Não posso e nem quero ser só sua amiga. E você também não quer. Senão, também não me evitaria como vem fazendo.
Não é só eu que estou fugindo do que está sentindo. Você prometeu que ficaríamos bem, mas não me quer mais na sua vida. Eu tenho tentado sustentar essa relação que acabou e só eu não me dava conta. Mas eu finalmente enxerguei a verdade.
Não dá para prender alguém na nossa vida que claramente não quer estar nela. Você vem me escondendo coisas, há tanto tempo, e eu me pergunto como isso aconteceu e eu não dei conta – eu sempre me gabei por ser esperta demais para o meu próprio bem, descobrindo as coisas, enxergando tudo o que acontecia no ar e não me dei conta de que estava perdendo você e justamente para ela. E analisando bem, ela sempre esteve entre nós. Como eu não me dei conta disso antes? Eu não sei. Talvez seja porque eu acredito demais nas pessoas. Acredito que elas jamais me magoariam assim. Mas olha aí você me provando o contrário. Eu sou uma estúpida. Mas tudo bem, eu aprendi a lição.
Todavia, o que me consome é não saber o que fazer com tudo isso que sinto. Eu tenho medo de admitir, mas não há mais como esconder. Eu sei que se admitisse, doeria. Mas já está doendo muito. Eu sofreria como estou sofrendo agora. Melhor acabar com isso e fazer sangrar de vez.
Fazia tanto tempo que eu não escrevia assim, com toda essa intensidade, essa entrega. E foi justamente por você, por quem eu vinha escrevendo coisas tão lindas, que eu voltei, escrevendo sobre qual partido o meu coração está.
Acho que isso já é o suficiente para mostrar o nível de dor que meu coração está sentindo. Estou me deixando vulnerável em suas mãos, como nunca fui.
Até que ponto podemos aguentar antes de soltar?
Até que ponto eu posso ficar perto de você e não desmoronar?
Não quero descobrir. Por isso, farei a única coisa em que sou verdadeiramente boa: fugir.
Até que ponto eu sou capaz de te amar sem admitir?
Não por muito tempo. Eu estou quase gritando para o mundo ouvir o que sinto por você. Nos meus olhos tem toda verdade. Eu quase admiti o tanto que te amo para uma grande amiga, após beber. Não posso fazer isso. Preciso trancar todo esse sentimento no meu coração e jogar a chave fora.
Talvez a gente ainda possa ficar junto, em um futuro bem distante – mas não acredito nisso. Seria me iludir à toa.
Talvez em outra vida eu tenha sido a sua garota.
Talvez em outro momento o medo não tivesse nos afastado.
Talvez em outro acaso, o destino faria de nós, dois, e não eu e você, separados.
Você dizia que nunca me deixaria, mas escolheu se afastar de mim, sem nem se despedir. E o que é pior, me fez acreditar que jamais soltaria a minha mão.
Eu te perdi.
Você me esqueceu.
Te vi seguir em frente, enquanto eu apenas sento e escrevo a minha dor, esperando que tudo se acalme aqui dentro e eu consiga voltar a ter esperança.
Se você voltar, talvez eu estarei te esperando.
Só peço a Deus que não.
Jamais quero amar alguém como amei você – eu não suportaria mais ter que superar alguém como venho tentando superar você.
Só me prometa que será feliz. Porque eu jamais perdoaria você se não fosse incrivelmente feliz com a vida que escolheu, com a pessoa que escolheu para estar ao seu lado, sem que eu seja o motivo da sua felicidade.
Com todo amor que ainda há em mim,
G.
L.P., 24 de agosto de 2021.