Natal-RN, 16 de agosto de 2021.
Carta à menininha chorona.
Querida menininha,
Não quero sorrir do teu pranto, isso nunca. Ao contrário, quero dizer que fiquei orgulhosa da tua coragem de chorar em público, de derramar as tuas lágrimas no meio de um monte de gente que nada sabe de choro. És uma eterna corajosa por tudo isso. Talvez chorar, muitas vezes, não seja bom. Choramos porque ficamos tristes ou felizes demais.
No teu caso, choravas por tristeza e isso doeu muito em mim porque lembrei da minha vida cheia de tristezas em que choro todos os dias ao amanhecer e olhar para a janela fechada ou ao anoitecer e não ter coragem de contemplar as estrelas. Eu ainda choro muito de tristezas, menininha. Essas tristezas que entram na gente e fazem morada nos nossos corações deixando-os vazios de tudo.
A única vez que chorei de alegria foi quando ganhei um ursinho de pelúcia de presente do meu tio. Sim, neste dia as minhas lágrimas caíram dos olhos felizes enquanto eu abraçava contra o meu corpo o ursinho. Mas, cresci e tive que abandonar o meu ursinho e deixei no passado as lágrimas mais felizes da minha vida.
Tu gritaste para que todos ouvissem que a tua mãe é má...risos...ora, ora, tu és uma menininha bem bravinha...risos. Sei que estavas com raiva da mamãe e por isso choravas e disseste aquilo. Mas, a mamãe não podia comprar o sapatinho que tu querias. Nem sempre as mamães são fadas e conseguem realizar todos os nossos sonhos, menininha. Tu precisas compreender a tua mamãe. Sabemos que os adultos são pessoas chatas, muitos deles se parecem com limões, não é mesmo, ou seja, são amargos? As pessoas amargas devem ter sofrido muito nas suas vidas em algum lugar do passado. A dor do outro ninguém sabe.
Puxaste a toalha da mesa e colocaste tudo no chão. Quebraste xícaras e pratos. Estavas com raiva mesmo naquela tarde de muito choro. Eu de longe só contemplava a tua coragem de ser uma menina chorona e brava. Disseram que tu estavas de birra e a mamãe nem ligou para os teus gestos e continuou tomando o café enquanto tu esperneavas no chão.
Fiquei com dó de ti porque também já quis muito ganhar algo que minha mamãe me negou, por isso comprei os sapatinhos que tanto desejavas e te presentiei. Espero que tenhas gostado. Não! Não precisas me agradecer! Foi um presente de amiga para amiga. Apenas mandas me dizer se eles couberam bem nos teus pezinhos e se são confortáveis de verdade.
No mais, quero te dizer que crianças iguais a tu sempre me encantaram, não pelas suas birras, mas pelas suas coragens de quando querer algo chorar bem muito, chorar até não ter mais de onde tirar lágrimas. Eu queria ser igual a tu, menininha. Hoje eu queria chorar até o fim da minha vida porque sinto-me tristonha, mas só tenho robôs e máquinas de parafusos para me ouvirem. Já pensaste como seria engraçado uma mulher de mais de cinquenta anos chorando igual a tu? Será que os adultos compreenderiam? Quando crescemos não podemos fazer coisas de crianças... não temos autoridade para isso.
Vou precisar encerrar a minha cartinha porque o tempo anuncia que vai chover e lá longe já vem um vento forte. Tenho que tirar a roupa do varal.
Um beijo, menininha.
Da sua amiguinha poeta.
Carta à menininha chorona.
Querida menininha,
Não quero sorrir do teu pranto, isso nunca. Ao contrário, quero dizer que fiquei orgulhosa da tua coragem de chorar em público, de derramar as tuas lágrimas no meio de um monte de gente que nada sabe de choro. És uma eterna corajosa por tudo isso. Talvez chorar, muitas vezes, não seja bom. Choramos porque ficamos tristes ou felizes demais.
No teu caso, choravas por tristeza e isso doeu muito em mim porque lembrei da minha vida cheia de tristezas em que choro todos os dias ao amanhecer e olhar para a janela fechada ou ao anoitecer e não ter coragem de contemplar as estrelas. Eu ainda choro muito de tristezas, menininha. Essas tristezas que entram na gente e fazem morada nos nossos corações deixando-os vazios de tudo.
A única vez que chorei de alegria foi quando ganhei um ursinho de pelúcia de presente do meu tio. Sim, neste dia as minhas lágrimas caíram dos olhos felizes enquanto eu abraçava contra o meu corpo o ursinho. Mas, cresci e tive que abandonar o meu ursinho e deixei no passado as lágrimas mais felizes da minha vida.
Tu gritaste para que todos ouvissem que a tua mãe é má...risos...ora, ora, tu és uma menininha bem bravinha...risos. Sei que estavas com raiva da mamãe e por isso choravas e disseste aquilo. Mas, a mamãe não podia comprar o sapatinho que tu querias. Nem sempre as mamães são fadas e conseguem realizar todos os nossos sonhos, menininha. Tu precisas compreender a tua mamãe. Sabemos que os adultos são pessoas chatas, muitos deles se parecem com limões, não é mesmo, ou seja, são amargos? As pessoas amargas devem ter sofrido muito nas suas vidas em algum lugar do passado. A dor do outro ninguém sabe.
Puxaste a toalha da mesa e colocaste tudo no chão. Quebraste xícaras e pratos. Estavas com raiva mesmo naquela tarde de muito choro. Eu de longe só contemplava a tua coragem de ser uma menina chorona e brava. Disseram que tu estavas de birra e a mamãe nem ligou para os teus gestos e continuou tomando o café enquanto tu esperneavas no chão.
Fiquei com dó de ti porque também já quis muito ganhar algo que minha mamãe me negou, por isso comprei os sapatinhos que tanto desejavas e te presentiei. Espero que tenhas gostado. Não! Não precisas me agradecer! Foi um presente de amiga para amiga. Apenas mandas me dizer se eles couberam bem nos teus pezinhos e se são confortáveis de verdade.
No mais, quero te dizer que crianças iguais a tu sempre me encantaram, não pelas suas birras, mas pelas suas coragens de quando querer algo chorar bem muito, chorar até não ter mais de onde tirar lágrimas. Eu queria ser igual a tu, menininha. Hoje eu queria chorar até o fim da minha vida porque sinto-me tristonha, mas só tenho robôs e máquinas de parafusos para me ouvirem. Já pensaste como seria engraçado uma mulher de mais de cinquenta anos chorando igual a tu? Será que os adultos compreenderiam? Quando crescemos não podemos fazer coisas de crianças... não temos autoridade para isso.
Vou precisar encerrar a minha cartinha porque o tempo anuncia que vai chover e lá longe já vem um vento forte. Tenho que tirar a roupa do varal.
Um beijo, menininha.
Da sua amiguinha poeta.