CARTAS PARA MINHA NETA RECÉM-NASCIDA
Cartas para minha netinha IV
Oi Malu amada, Deus a abençoe sempre ricamente!
Enche-me de alegria escreve-lhe, me sinto como se estivesse preparando uma espécie de dossiê histórico de seus primeiros dias entre nós, embora eu não lhe veja diariamente como gostaria. Preciso contentar-me apenas em sorrir para suas fotos e vídeos que seus pais me mandam com seus sorrisos e sapequices. Não que me bastem, por mim a veria todos os dias, mas o fato de atravessarmos uma pandemia (direi adiante o significado desse nome pavoroso) me impede de ser mais presente. Só tenho o direito de abraça-la de longe com o meu amor de avô. Nas fotos de seus aniversários de cada mês que sua avó materna organiza com tanto gosto, entristece-me não estar presente por causa do isolamento social provocado pelo Covid 19. Hoje, na verdade, eu nem queria focar nesse assunto, mas entendo ser este o objetivo maior dessas anotações que lhe endereço. Você está nesse caos mesmo inconsciente, e será de bom alvitre saber o que for possível para conhecer o universo onde se encontra. Lembra que lhe falei sobre a controvérsia do Carnaval, do presidente Bolsonaro que teria pedido para a festança não acontecer, porém os governadores não lhe deram atenção? Pois é, você estava já com dois meses quando explodiu a alegria carnavalesca por todos os cantos e recantos do Brasil e, no descontrole da folia, aquela doença serpenteando invisível agora se espalhou pelas multidões, porque o carnaval atrai para o Brasil gente do mundo todo. Muitos desses foliões, talvez até mesmo inconscientemente, trouxeram consigo o vírus da morte, o qual tinham denominado de coronavirus. Passada a euforia carnavalesca, Malu, surgiram os primeiros e tímidos casos de pessoas infectadas em São Paulo, no Rio de Janeiro e outras grandes capitais. Não esqueço que foi nesse período que o noticiário televisivo e das redes sociais exibia, acontecendo na China, as imagens e fotos de cidadãos caindo mortos, de repente, nos lugares públicos. Era ao mesmo tempo triste, macabro e comovente. Para nós brasileiros, apesar dos casos aqui surgidos, essa não era uma realidade nossa, pertencia inteiramente à China, não achávamos que nos atingiria tão fortemente. Que engano tolo! Em pouco tempo, receando o pior para brasileiros residentes na cidade de Wuhan, onde a doença se originou, o governo federal enviou aviões da FAB para traze-los imediatamente de volta para o Brasil, para escapar da desconhecida peste virulenta. Confesso, Malu, que nunca pensei haver brasileiros morando naquele pedaço de fim do mundo. Na chegada, todos os passageiros ficaram quinze dias de quarentena com vistas a se descontaminarem ou para saber se alguns deles traziam o coronavirus no organismo. Foram isolados numa base militar onde recebiam alimentação e cuidados médicos e passavam os dias em atividades diversas tipo lazer e leitura. A mídia, como sempre, aproveitando a oportunidade de notícia nova, farreou e se fartou em cima dessa novidade. A tempestade, no entanto, ah, essa ainda não desabara de vez sobre nossa Nação, ela viria em breve. Eu lhe escreverei contando como foi com os detalhes, pondo-lhe a par de tudo no intuito de mostrar como a história, da qual você foi parte inocentemente por nascer numa epoca tão caótica, seguia seu apavorante curso.
Você tem o amor do vovô
Gilbamar