T
Talvez um dia eu entenda como a vida funciona, e todos os meus planos deem certo.
E que eu entenda de uma vez por todas que a vida não segue planos.
Essa é a última coisa que te escrevo. E não repara de saímos de Srtª T, para apenas a tua inicial. A verdade é que ainda não consigo falar do teu nome sem tremer o canto da boca.
Minha despedida se faz por papel, uma vez que no bar – como havíamos combinado – seria impossível. Até porque você já anda por lá, e com pessoas que nem de longe se parecem comigo.
Você venceu. Eu desisti.
E com o resto de vergonha que ainda me resta na cara, parto.
Só não esquece que um dia eu te amei.
E que isso foi uma das coisas mais sinceras que vivi por todos esses anos.
De tua lembrança, sobram as cartas amareladas endereçadas a Jacarecanga dentro de um caderno, junto com fotografias de momentos felizes, e uma caixa com livros e cadernos seus que achei limpando a casa – e que entregarei em momento oportuno.
Você morreu. Você mudou.
E daí eu percebi que a mulher que eu amava – e que era diferente de todas as outras – ficou numa foto preto e branca tirada numa igreja. E que essa mulher de agora é terrivelmente igual a todas as outras com pitadas de dissabores emocionais.
Quero e mereço mais do que isso, portanto vou.
Talvez um dia também ganhe asas próprias, e quiçá como Ícaro desbrave as alturas sem minhas asas derreterem. Ou se por acaso cair, aproveito a queda – como agora, escrevendo coisas que passam desapercebidas. Todo amor que eu tinha pra te dar eu jogo por aí; nas roletas, nas viagens, na minha casa e em mim.
Você me ensinou que até mesmo desfiladeiros nos olham de volta quando olhamos para eles; e quanto mais olhamos, mais fundo eles ficam.
Obrigado por todas as coisas que eu sei que não terei mais. E que foram maravilhosas enquanto duraram. E até pela última ilusão proporcionada, que realmente me fez abrir os olhos sobre o que, e em quem acreditar.
Obrigado.
Obrigado e adeus.