CULTURA EDITORIAL

CARA EDITORA

CASSIA OLIVEIRA

Não gostaria de alimentar um pingue-pongue de e-mails de lá pra cá e daqui pra lá. Um pingue-pongue de argumentos sobre o “sexo dos anjos”. Quando os argumentos são tolos a razão fica sem ação. Em resposta a resposta da resposta de seu mais recente e-mail, tenho a dizer, pontuando sua argumentação a partir do primeiro parágrafo:

— “Procurei no seu site do escritor seus livros, mas infelizmente não estão expostos lá”. — Como não, cara editora??? Todos os meus livros editados estão lá, sim: Não apenas os editados em n° de 12 (doze), mas pelo menos uns outros cinquenta livros não editados que a senhora não visualizou, não sei como conseguiu essa proeza: a de não os visualizar entre milhares de textos. São mais de 2.300 (dois mil e trezentos).

Solicito da senhora Editora que, por favor, não passemos a argumentar sobre o mencionado “sexo dos anjos”. Afinal não estamos aqui para debater a teologia dos tempos remotos em que os turcos otomanos promoviam debates teológicos em Constantinopla. Quero dizer: a senhora pode argumentar diversas coisas sobre o fato de não ter achado os meus livros editados e comercializados.

Esses livros editados e comercializados que a senhora não encontrou no site, somam aproximadamente 30.000 (trinta mil) exemplares. Não estão expostos no site porque, qual a vantagem de expor suas capas e contracapas se não estão mais à venda, com suas edições esgotadas??? Os pesquisei, escrevi, digitei, revisei, editei, distribuí (vendi) em livrarias, bancas de revistas, bazares de fins de semana, feiras de livros, lançamentos em bares e restaurantes onde havia (e há) aglomeração de pessoas: em São Paulo, na Vila Madalena por exemplo.

As edições/reedições (em média dois mil exemplares), foram comercializadas com muito, muito trabalho: noites e madrugadas indormidas, manhãs cansadas. Por quê??? Porque no Brasil, país do futebol, da cultura de bares, do carnaval, país de opulente pobreza e miséria material e de filosofia, país dos “bichas-Brothers”, dos políticos aflitos por fazer valer seus esquemas de corrupção, o escritor que almeja ser lido, precisa ir à luta para comercializar mano-a-mano livros, nesses lugares de, por vezes, saudável agregação.

De acordo com a cultura local, as pessoas têm seus modos peculiares de desperdiçar e/ou aproveitar a vida. Entre brasileiros, com certeza não é lendo. O Brasil não é um país de leitores porque não há editores que se preocupem com cultura literária pertinente ao desenvolvimento dos corações e mentes infestados, infectados pelos vírus das banalidades corriqueiras. A cultura do intelecto não é brasileira, com certeza.

É difícil tirar a venda dos olhos de uma população festeira. O que impede os editores e editoras de ver a realidade de escritores/autores que não são meros beletristas em sentido pejorativo??? O quê, que tipo de cultura a impede de ver entre meus mais de 2300 (dois mil e trezentos) textos de poesias, contos, crônicas, artigos, ensaios, roteiros, romances, pensamentos, teses acadêmicas... A possibilidade de produtiva editoração???

Que a impede de avaliar nesses milhares de textos existem dezenas e dezenas de livros??? Livros não publicados porque falta ao país uma editora que tenha, entre seus quadros de funcionários, alguém com capacidade de leitura e avaliação do potencial de mercado destes livros, que só precisam de uma formatação adequada para ser lançados no mercado de leitores à espera de que suas mentes (dos leitores) saiam da letargia intelectual em que vegetam seus corações e suas mentes!!! Se não há sensibilidade editorial, que será do futuro da literatura no país??? Por que isso acontece???

Uma sobrevivência miserável das multidões de salários baixos, uma cabeça coletiva cheia da cultura de “bichas-brothers”, entretenimentos do mais reles teor cultural e editoras que não editam, exceto quando a grana aparece em primeiro lugar. Que país é esse que não sai do lamaçal cultural porque de nenhum lugar surge qualquer incentivo neste sentido???

Como se pode chamar de editoras empresas que não têm respeito e dedicação, que não têm a menor empatia ao fazer literário de escritores/autores??? A senhora não acredita que escritores e editoras deveriam ter ferramentas complementares a seus afazeres??? Escrever exige milhares e milhares de horas, dias, semanas, meses e anos de leituras, pesquisas, estudos, dedicação à leitura e interpretação de milhares de personagens, sujeitos beltranos, fulanos, cicranos presentes na dramatização de livros, peças de teatro, textos avulsos, dramaturgia...

Preciso chamar-lhe a atenção para estas realidades que deveriam saltar a seus olhos enquanto coordenadora editorial??? Seus demais questionamentos presentes em seus e-mails não são pertinentes aos interesses do autor, mas a seus próprios quefazeres apenas. Exemplos: a senhora Editora menciona uma série de rotinas editoriais que pressupõem meu desconhecimento do fazer editorial:

Eu não assinaria um contrato editorial que me impedisse de editar um livro com outra editora (seria absurdo fazer isso em edições de pequeno porte). Que autor/editora publicaria um livro sem o registro dos direitos autorais, ISBN, código de barras??? São questões sem relevância editorial que a senhora menciona em seu e-mail, assim como o nome da editora anterior que, sabemos, consta de qualquer programação editorial.

A Editora mencionou em e-mail anterior, que poderia fazer a entrega da edição em 60 (sessenta) dias, agora, nesse mais recente e-mail, menciona uma taxa extra de urgência de R$ 1.480,00 (mil quatrocentos e oitenta reais) que alega ser obrigada cobrar. É evidente que toda editora tem um programa cronograma a seguir, outra coisa que não precisava ser mencionada (outro argumento tipo “sexo dos anjos”).

A senhora alega possuir um contrato padrão para todos os autores. Escritores que merecem este nome não são produtos de linha de montagem em série, padronizada. Simplificar um contrato editorial não requer nenhum trabalho extra, ao contrário: como o próprio nome diz: simples, simplificar.

A senhora alega (abre aspas): “não sei que tipo de profissionais você tem tratado, aqui não tiramos vantagem de ninguém (fala sério) ... Não é nosso interesse fazer um trabalho cheio de desconfiança e contenda... Quanto ao pagamento sugiro que seja efetuado em duas vezes (eu havia sugerido isto) 50% ao iniciar os trabalhos, 50% quando o livro for encaminhado à gráfica” (fecha aspas). Permita-me perguntar: quem está criando arestas e sempre querendo levar vantagem??? Eu sugeri que o pagamento fosse feito em duas vezes: uma na subscrição do contrato, outra na entrega da edição ao autor. Este procedimento é o certo, desde que o autor não fica a depender dos cumprimentos de prazo da editora. Que muito raramente entrega no prazo contratual.

Se a senhora não quer levar vantagem ao editar um livro, por favor, saia logo do ramo, porque sem levar vantagem, nenhuma empresa pode subsistir por muito tempo, o que a Editora alega já estar fazendo com autores editados, diz a senhora, por quatro vezes. Sugiro que possamos sair do imbróglio e do vaivém sobre o “sexo dos anjos” e chegarmos a um acordo que satisfaça honestamente ambas as partes do contrato.

Cordial e honestamente

DEOCLECIO ALBUQUERQUE FORTES BRITTO

Nome literário nesse site: Decio Goodnews

((P. S: A sugestão de capa do livro estará disponível na Editora logo que o contrato seja subscrito e o primeiro pagamento efetuado, considerando-se a entrega em sessenta dias e a supressão do valor inflacionado sugerido (R$ 1.480,00) na validade desse prazo. É afirmativo dizer que o orçamento desta Editora é o de maior preço por exemplar dentre outros orçamentos pesquisados. É isto. Obrigado pela atenção)).

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 29/06/2021
Reeditado em 06/07/2021
Código do texto: T7288977
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