Enfim morto.
Por morte natural, abandono meu corpo no próximo dia 25,
e já dia 26 escrevo-te:
Querida esposa.
Morri.
E já me encontro com o inexorável.
Tantas vezes falamos sobre a morte e aqui estou, nesta viagem turística que une a todos no mesmo destino.
Cheguei primeiro. Não me inveje. Tu vens logo, junto com toda a humanidade.
Perdi minhas vestes. Pode queimá-la, não por desprezo, mas porque o fogo sacraliza.
Perdi minhas vestes. Agora flutuo.
Sorria. O que antes supunha, agora eu sei.
São tantas coisas deste lado, que mal consigo pensar sobre as coisas dai.
Tu e nosso filho estão em boas mãos. Voces ainda são rio, eu já sou mar.
Não somos a mesma coisa?
Que aventura, querida.
Que aventura essa aqui.
Musica clássica, amigos virtuosos, bons pensamentos e sorrisos.
Nada mais em meu cortejo.
Nasci e morri. Quantas vezes mais a vida una assim me conduzira?!
Que honra.
Que oportunidade foi caminhar contigo. Caminhar com ele.
A vida é linda, vocês são lindos. Lindo é o inexorável.
Fui.
Mas sempre estarei.
Acredite.