A carta que não vai chegar
Tuas cartas chegaram todas no passado e me fizeram muito feliz! Eu continuo te lendo no presente e no futuro ainda me confortarás e emocionarás igualmente.
Eu desejava te escrever uma carta por mês esse ano. Até que tenho boas ideias, pena que minha vontade é fraca. Eu já podia entrever teu espanto, surpresa, alegria, êxtase ao receber minha cartinha, e a cada mês a felicidade se repetiria.
Hoje eu li uma carta antiga em que me reprovavas por uma carta que eu havia escrito para uma pessoa do meu passado. Disseste que eu deveria aprender a ter paciência e esperar e que deveria parar de me enganar para não ser atropelada pelas consequências dos meus impulsos. Será que mudei? Será que aprendi a esperar? Talvez tenha aprendido a me conformar. Não sei se isso é bom ou ruim, mas ouço muito falarem em resiliência que rima com paciência. Parecem primas. Será que sou resiliente?
A minha pessoa do futuro parece tão sábia, mas na realidade é ainda criança. Busco teu colo que parece fugir. Teu colo de ouro um dia me amparou. Hoje esconde alguma dor que ainda não entendi. Eu tinha que ir ali à feira, preciso me apressar, mas sou aquela que se perde no tempo e depois corre para finalizar as tarefas no último minuto. Eu ia lá, sabe, mas me pareceu bem mais interessante te escrever essa carta que não vai chegar. Eu só queria mesmo divagar para esquecer o que não quero lembrar.