Carta para você
Vim mais uma vez responder às tuas perguntas, mesmo não tendo certeza das respostas, mas vou tentar explicar ao menos parcialmente do processo em que me encontro hoje.
Não sei ao certo o que seria o silêncio, entretanto, digo-te: no silêncio da vida, busca teu eu mais profundo. A vida é ruidosa, é verdade, como encontrar então esse silêncio? Teu coração é teu quarto do silêncio e tu precisas aprender a acessá-lo, ainda que o barulho ensurdecedor e frenético dos dias, não se cale um só minuto. É nesse silêncio quase inatingível que encontramos nossas respostas essenciais.
Eu tenho saudades, sabe? Saudade das pessoas que habitaram meu passado e até da pessoa que já fui. Saudades de lugares inesquecíveis, de sons, de sabores, imagens e perfumes que marcaram cada fase que vivi. Às vezes tenho saudades do que desconheço, chega a apertar tanto meu peito que solto suspiros doloridos da cor lilás.
Quando o amor serena, ele vive para sempre, ele não morre como dizem. Ele já entendeu que é preciso deixar-se livre, e libertar o outro de todo e qualquer sentimento, até do próprio amor. Amor que serena é amor que ama cuidando silenciosamente, gratuitamente, sem esperar que o outro seja capaz de retribuir, pois só sabe se dar.
Sem a imaginação a vida não teria a mesma beleza, meus dias não teriam a cor, o brilho e o toque que têm. Eu morreria se ela não estivesse sempre comigo e, o sonho, meu lugar de repouso onde loucuras são lícitas, não seria jamais alimentado.
Eu sinto medo, sim. Talvez não da morte propriamente dita, mas de não saber viver meus últimos dias.
Texto escrito durante uma oficina de escrita criativa com a escritora paraense Mayara La-Rocque.