Nebulosa
Não há como me separar da triste cena
mas meu sonho é te propor pequeno deciframentos de uma
página - tarefa que cansa e recorda separações inevitáveis
(e vícios ocultos)
Ana Cristina César - 1952
Não vou te prometer nada, me tornei um péssimo cumpridor de promessas, veja bem;
me prometi não escrever mais nada relacionado a ti e é mentira, afinal a grande maioria do que escrevo é pensando em ti e não deveria. [lamentações do autor]
Mas veja bem que há progresso, eu entendi que não é amor que me doía vez ou outra; entendi que não é falta tua e nem paixão, mas o maldito costume que me agarra pelo pé na madruga e como hoje nem mesmo os cigarros me fizeram dormir.
Fotografei o céu anuviado, lá da laje vi a relva decair por sobre as montanhas e pensei em te escrever.
Pensei em te escrever porque sei que no final será só eu falando sobre o que não há de voltar porque não existe mais e eu estou feliz por isso.
Preciso que você entenda que minhas cartas não falam mais de amor pois falam de você e não existe amor nesse hiato que nos tornarmos e isso é reconfortante;
Outro dia me vi sorrindo com uma lembrança que não doeu e todas lembranças tuas doíam, então lentamente dei dois passos atrás, estava minusciosamente cutucando a ferida cicatrizando e ela sangrou apenas um pouco, secou.
São 05:18 am, tomei um banho, deitei e estou aqui lhe escrevendo mesmo sabendo que você não irá ler e está tudo bem.
Não há fixação, existe apenas o medo inconsciente da libertação total e é isso que busco todos os dias; o frenesi de sentir-se totalmente livre da dor, do pânico, da vã consciência do certo e errado e por fim apenas silêncio.
Rezei tanto aos deuses por apenas um pouco de alívio;
acho que por pena um deles resolveu atender-me.