A ÚLTIMA CHAGA- Degraus do desespero

Viagem tranquila, corpo cansado, quebrado e naqueles dias em que as mulheres ficam, depois de 15 horas de viagem, finalmente pude abraçar meus familiares. Minha sobrinha tinha tido um bebê recentemente e estava morando temporariamente no meu antigo quarto. Às vezes, eu dormia no sofá cama na sala e às vezes, no quarto do meu sobrinho que ficava vazio, na casa da minha irmã que morava em cima. Dependia muito do meu nível de cansaço ou da privacidade que eu queria ter.

Como durante o dia Rafael trabalhava, pouco me atormentava, mas pouca coisa ou quase nada mudou nos períodos das noites. Sempre as noites... Durante o período de férias era a única forma de ter uma conversa com o Júnior pelo WhatsApp, para tentar explicar um pouco do que estava acontecendo. Rafael queria ficar grudado a noite inteira comigo por vídeo chamada. Me sentia como estivesse em Magé. Não bastavam as mensagens de textos e nem áudios, tinha que ser por vídeo chamada.

Em uma das noites em que deitada e me preparando para dormir, os efeitos catastróficos do telefone celular que a mãe dele deu de presente, começaram a surtir seus efeitos. Eu e Júnior, estávamos tentando colocar a conversa em dia, visto que mantínhamos a amizade e em momento algum, ao desmancharmos o namoro, eu havia mencionado que iria morar com outro homem, justamente para poupá-lo de mais sofrimento. E de sofrimento já bastava o meu que traía desde o princípio, os meus valores e sentimentos.

Em uma dessas conversas, Rafael insistia muito em falar comigo, me acusando de estar conversando com Júnior pelo WhatsApp, o que de fato era verdade. Conversando com Júnior, eu tentava uma maneira de desabafar sem revelar todo o tormento e turbulência que estavava passando. Era óbvio que eu ainda tinha sentimentos por Júnior, mas nunca nos encontramos durante as minhas férias no Rio de Janeiro. Minhas férias foram extremamente cansativas e tumultuadas, Júnior tinha trabalho até o pescoço, só o desequilibrado do Rafael que tinha tempo sobrando para nutrir tantas coisas ruins e colocar suas ações baixas em prática.

Até que Rafael enviou uma foto de um aplicativo espião para WhatsApp que dizia que eu estava conversando com Júnior, fiquei nervosa por medo dele descobrir o telefone deste. Enviava prints da tela do seu celular que comprovava que eu estava digitando com Júnior. Como já não bastasse todo esse terror psicológico, ainda colocava o print como status e foto do WhatsApp dele para todos os seus contatos verem, inclusive, familiares.

Enviava vários áudios com ameaças sobre o que faria e como eu precisa conversar com Júnior, acabei por bloquear Rafael por um tempo no Whatsapp. Ao se repetir isso por algumas noites, fui surpreendida com mensagens de texto e áudios também via WhatsApp de um número desconhecido, mas como era de uma cidade diferente de Rafael, e sendo de uma mulher a qual eu não conhecia, resolvi ouvir os áudios. Na verdade eu a conhecia só pelo site, mas não tinha intimidade nenhuma, usava um Nick como a maioria fazia e se identificou como Valéria.

Era realmente aterrorizante a forma como Rafael de fato se superava nas suas investidas baixas e sujas. Ao ouvir os áudios eu fiquei atônita, pois ele havia fornecido o número do meu telefone celular para uma conhecida do site de jogos em que eu nem entrava mais, para que pudesse entrar em contato comigo para me avisar que sabia que eu estava conversando e traindo ele com o Júnior. Na mesma hora eu a bloqueei, pois uma mulher se prestar a fazer o papel que ela fez, não valia nada tanto quanto ele e até menos, inclusive. E isso veio a ser comprovado posteriormente.

Este episódio veio a me chocar muito, pelo fato de que Rafael realmente não tinha nenhuma espécie de limites, fornecendo meu nome e o número do meu telefone para pessoas desconhecidas daquele site de jogos. Até que recentemente eu descobri que ele procurou uma antiga colega minha do site para se prestar a este papel, mas como ela negou, ele pediu para outra que sequer eu conhecia e ela a mim. Recentemente entrando em contato com esta minha colega, ela disse que na época, ele me xingava muito e dizia as mesmas coisas de sempre, que eu o traía. Fora outras mentiras que ele usava como arma para me difamar e colocar as outras pessoas contra mim. Dois anos depois, ainda assim, fiquei chocada ao saber que ele havia procurado por outra pessoa, e pior, uma colega minha.

Houve um momento em que os ataques frequentes de Rafael ficaram tão fora do controle que tive que bloqueá-lo até próximo ao dia da minha viagem de volta. Ainda assim, ele criou ou já tinha, isso eu não sei dizer, perfis fakes no Facebook, que me enchiam a caixa de mensagens. Até que um dia ele usou o da mãe dele e se passando por ela, dizia que eu tratasse o filho dela (ele mesmo) bem porque ele realmente me amava e que esperava o nosso retorno. Terminadas as “férias” nada divertidas, embarcamos eu e meu filho no ônibus, e com o coração apertado e olhos marejados por ver o meu padrinho de pé na rodoviária esperando a nossa saída, eu recebia a mensagem de Rafael dizendo que um Pastor esteve lá, que ele havia parado de beber, que iria para a igreja e tudo seria diferente quando retornássemos.

Ao retornar a mãe de Rafael tinha voltado para a casa dela. Lembro até hoje da cena, eu entrando na sala com minha mala, e indo em direção a ela que estava deitada no sofá e dei um beijo em sua testa. Posteriormente, ele conversando comigo, pediu para que ela ficasse. Eu respondi que nunca pedi que ela saísse, que pelo contrário, a tratei como se fosse minha mãe, dando banho, secando seus cabelos, e até comprando alguns de seus remédios. Que o meu intuito desde o início sempre foi de compor uma família feliz, quando tive esse sonho frustrado ao me deparar com a realidade de Júnior. Convivemos um tempo em paz, voltei com a minha rotina normal de dona de casa. A paz reinou até o dia em que o “celular” de Rafael voltou a dar trabalho e a causar problemas.

O inferno recomeçou no dia em que Rafael baixou um aplicativo em seu celular, que permitia ver todas as minhas curtidas e comentários públicos nas redes sociais. E foi onde ele conheceu um amigo meu da época da minha adolescência que também se chamava Júnior e especulando ser o meu ex-namorado, veio tirar satisfações comigo. Naquela noite e como sempre à noite, começava mais uma dança para o diabo aplaudir.

Expliquei quem era o rapaz, que ele era inclusive casado, e na cegueira dele, nem isso havia notado no perfil dele. Então, eu indignada com a atitude dele, primeiramente, tentei ter uma conversa tranquila e calma. Até que ele começou novamente a ditar o que eu podia curtir ou não, incluindo como sempre a opinião da mãe dele que estava presente na cozinha conosco. Como meu sangue começou a ferver por já ter pedido para ele não envolver a mãe dele nos nossos assuntos, eu comecei a dizer coisas não tão boas para ela, umas verdades que ela também estava precisando ouvir e que já estavam entaladas na minha garganta há algum tempo.

Dizendo exercer o seu amor incondicional de mãe e insinuando novamente que meu filho cresceria e que eu passaria a saber o que ela sentia pelo filho dela, não pude conter minhas emoções e a disparar verdades discrepantes entre o meu filho e o dela. Momento este em que rispidamente e sem nenhum respeito, Rafael mandou que sua mãe calasse a boca. Com o clima novamente tenso, na manhã do dia seguinte, como de costume eu deixei o almoço pronto para a mãe de Rafael, arrumei a mesa e saí com o meu filho para passear no centro da cidade sem notificar a ninguém. Acredito que ela tenha entrado em contato com ele, que largou o trabalho e saiu feito um louco à minha procura.

Encontrou-me sentada num parquinho, pegando um sol bem gostoso nas costas. E foi olhando para as casas dali que começou a fortalecer a ideia de eu partir para um aluguel, visto que eu já não aguentava mais aquela situação. Quando fui surpreendida com Rafael dizendo que sua mãe já não estava mais lá na casa e que novamente tinha voltado a morar na casa de Lena, que é onde fica o trabalho dele. Não sei o que conversaram durante a minha ausência, mas com certeza foi alguma história distorcida e mal contada. À princípio, Rafael disse que sua mãe errava sim, mas que só queria que nos acertássemos, quando muito depois eu fui descobrir que ele disse para os seus outros irmãos que eu a havia expulsado da sua própria casa e é lógico com corroboração da parte dela na mentira.

Com o passar dos dias e as paranoias de Rafael aumentando cada vez mais, ele fez a tal da Valéria do site de jogos que havia entrado em contato comigo, adicionar o meu amigo de adolescência Júnior no Facebook, seduzir ele e fazer coisas nada legais. Isso me trouxe um sentimento de culpa enorme. Aliás, eu nunca entendia por que me sentia culpada pelos erros da falta de caráter, imaturidade e irresponsabilidade de Rafael, quando suas ações afetavam pessoas ligadas a mim que não tinham nada a ver com tudo que estava acontecendo. Lógico, fiquei brava, briguei, conversei, e como sempre ele vinha com as desculpas e admissão de seus erros. E sempre na esperança de que algum dia o pedido de desculpas e as promessas de mudanças fossem se tornar reais, Rafael insistia e persistia em descer os degraus do desespero até chegar no mais obscuro subsolo da imoralidade.

(Continua...)