Minha mente, Eternidade - para Rosabranca
Rosabranca, ainda que jamais fosse tão branca (existe algum branco, qualquer alvor tão límpido e perfeito como a retidão das formas, dos números?), que fosse escura como o abismo, como a cegueira - sem cor, obscura não escura -, a sombra sobre a mente como a perdição sobre a alma, que fosse tu o que não és, o nada vago e recôncavo como um vórtice inominável. A idéia que jaz em ti é perfeita, perfume sobre o mundo. A idéia não sei, talvez ninguém nem mesmo Deus saiba, compreenda, veja, entenda. Pressinto como um voo entre as alturas, não sobre as nuvens, mas acima dos mundos, para além do que existe. Intocável pois perene e onipresente; sentir-te a alma é perder-se em plena plenitude. Ninguém sente nada. É uma intuição, uma antevisão, uma efusão de arco-íris antes do cristal vítreo e incolor, antes do cinza absoluto ou da brancura inabordável, ingolfável, invisível até, quem sabe. Esse todo mistério esfuziante compreendi-o somente agora, à margem da lagoa perene que és, colhi uma gota do teu ser, não por estar sendo o que antes não vi, mas eu que fui para o teu ser, eu que estou sendo mãos em concha para sorver o que em ti desfigurou o véu do tempo. Certa vez, lembras-te bem, o quanto te quis, mas que desejei uma forma abstrata de ti, uma perfeição errônea, pois que até então eu não acreditava em minha própria corruptela, uma maneira estranha de ser. Agora que vejo bem o meu erro, quedo-me sobremaneira feliz - o teu ser assim fincado ao chão, sem asas ou auréolas, é muito mais lindo que a suprassuma perfeição dos anjos; melhor é ver-te assim humana do que como antes deusa. Pois eu mesmo perdi o deus em mim, por encher-me singularmente e em demasia de ares divinos, por esquecer-me do perfume das rosas e confessar que não sei o que são, que as rosas têm beleza mas não possuem uma alma. Assim é que eu te via: toda encanto e fascínio - mas aonde foi que perdi a tua alma de vista? Ah insensato! Agora que te vi, é que entendo. Entendo o quanto não te compreendi.