Carta Guardada
Te escrevo em silêncio, sem sono e com nenhuma expectativa de que um dia leia.
São quase três da manhã e, do alto da minha sacada, meu olhar se perde em alguma distração vinda do silêncio dos outdoors.
Reviro meu celular na esperança de encontrar algo pelo qual valha a pena a minha insônia e encontro uma foto sua. Seu rosto lindo e de sorriso triste me afirmam qualquer coisa além do desejo da carne.
A penumbra que persegue o silêncio evidencia em voz alta as palavras que dissemos um ao outro e, por sinestesia sinto a intermitência da sua presença. Me dou conta de que única maneira de libertar é me manter preso na tua memória.
A solidão rasga a noite e me avisa que ela já não abriga quem nela buscou refúgio. A solidão me expulsa da sua presença por falta de entrosamento, e como quem deseja sentir o sagrado espasmo da vida ou da morte, me sinto orgulhoso em fracassar na tentativa de encontrar um pouco de alegria e violência no desejo de te anestesiar em mim.
Meu pulmão expulsa a fumaça do último trago como quem liberta o pássaro que faz morada no peito e, assim, dou azas a uma esperança que voará livre ao saber do sagrado direito que ela tem de não se cumprir.
Volto meu olhos ao teu sorriso, enxugo as lagrimas que caem sem aviso e me dou conta de que só hoje me lembrei que a gente morre.