- Por amor se mata, mas não se morre.
Eu precisava ceifar esse sentimento que estava prestes a nascer por você. Perdi a atenção nas curvas, descuidei da barba e do cabelo, embriaguei-me uma, duas e outras vezes. Viajei sozinho pelo mundo, conheci culturas, bebi vinho, acredita?
Com os nativos de uma região curei meu mal, parei de me automedicar, larguei os vícios um a um e um desses uns é você.
Adeus.
Eu precisava arrancar um coração, meu peito carrega peso em excesso, e isso é morte.
Da quarentena que se seguiu houveram poucos dias em que não pensei em desistir, eu, comigo mesmo, aqui dentro, com tantos outros eus.
Saquei o bisturi e me pus a te tirar daqui; Tirar-te daqui de dentro a sangue frio, sem anestesia.
Deixei a dor invadir e sumi, deixei a falta escapar e desejei que minha alma abandonasse meu corpo gélido.
No rádio toca a minha canção:
"- O inferno são os outros."
Eu precisava sucumbir esse amor que estava pra nascer por você. Acordei de luto em um dia cinza procurando uma clínica qualquer para fazer esse aborto. Por isso te procurei, te liguei, te enchi o saco, me fiz presente até quando inconveniente, precisava que você me falasse um chega. E você não falou. Então. Estive de saída. Arrumei as malas, a casa, o coração. Meti o pé na estrada acelerando fundo e, foi perigoso, arranquei o pedal do freio.
O ato cirúrgico não derramou sequer uma gota de sangue, mas precisei de duas transfusões.
Uma ou outra parada cardíaca acometeram o coração já abalado. No fim do corredor uma luz e eu achei que fosse o fim; mas se há uma certeza tão certa quanto a morte é:
- Por amor se mata, mas não se morre.
Paschoal, George.