Carta de despedida

É, João, como sempre, você deixou muitas incógnitas por aqui.

Primeiro, fez o ghosting.

Depois, voltou em uma tentativa de gostar de ficar por aqui, na relação de troca comigo.

Mas, com tantas idas e vindas, apesar de não termos concretizado nada, você foi embora de novo e parece não voltar mais.

Eu poderia dizer que não quero que volte, mas, no fundo, eu gostaria que voltasse e ficasse de vez.

Ao mesmo tempo, sei como isso me faz mal.

Talvez, nunca tenha me feito bem na verdade.

Eu busquei muitas coisas em você desde o início.

Eu procurei o que acho que me falta, o que me provoca, mesmo doendo de algum modo.

Quando você partiu, da primeira vez, aquilo me corroeu por dentro.

Fiquei semanas e meses com você na cabeça, chorando e sem entender o porquê.

Eu me culpei: “será se o encontro foi horrível? Será se o beijo foi péssimo? Ele me achou feia? Achou o papo ruim?”

Eu busquei inúmeros defeitos em mim para tentar justificar o seu sumiço e desconsideração por mim até que decidi te tirar da cabeça.

Consegui por um tempo, me relacionei com outros caras que - em alguma medida - me fizeram sofrer também.

Mas eu estava melhor porque não eles não eram você.

Não era o jeito como só você fazia doer.

Só que você voltou.

Eu, primeiro, te achei um cara de pau e, depois, um cara incrível que conseguiu se redimir com as palavras e atitudes.

A pandemia veio e eu me PERMITI (não sabe como isso me dói hoje) voltar a gostar de você.

Eu me fiz cega nos primeiros momentos até que me rendi porque era você.

E você - especificamente você - toca nas minhas feridas e questões mais primárias talvez.

Me decepcionei de novo (o que no fundo não é novidade).

Já estava com cicatrizes de outros cortes feitos por você antes.

Dessa vez, foi mais intenso porque a gente se envolveu muito mais.

Quando nos reencontramos, no meio dessa pandemia, cara, eu pensei que fosse ser pra valer.

Claro que a noite não saiu como eu imaginava, mas tinha sido tão boa no papo, no íntimo, foi diferente.

Eu, realmente, pensei que a gente fosse ter um compromisso sério.

Na verdade, você até me disse que gostaria que isso acontecesse, mas sempre com o discurso do “tempo”.

De viver o presente.

Eu mergulhei, João.

Eu desejei você, mesmo o sexo sendo ruim, mesmo se mostrando mais frágil do que eu imaginava, mesmo pisando na bola.

Mas, para além do desejo, eu gostei de você.

Eu tive afeto por você.

Recebi um afastamento, uma frieza e um contato do whatsapp sem foto como resposta sua.

Isso me dói muito.

Me dói porque não é fácil esquecer você por alguma razão que a razão desconhece.

Só que, hoje, desejo muito que você não volte mais.

Você me traz mais sofrimento do que alegria e acho que confundi essas duas coisas várias vezes.

Eu acredito que estava precisando me confrontar com os meus próprios defeitos, questões mal resolvidas que estavam espelhadas, projetadas na pessoa que você é para mim.

Eu me apeguei a fantasias que não são e nem serão você, mas também me apaixonei por uma versão péssima de mim refletida no que você representa.

Acho que, na verdade, quando eu te olhava, te desejava, eu estava querendo me encontrar.

Querendo encontrar o meu pai também.

Querendo achar várias respostas para as minhas perguntas, para as minhas dores.

Eu não sei quais são as respostas para isso tudo de fato.

Eu só sei, até onde posso afirmar, do que senti por você.

E foi intenso.

Foi duro.

Foi montanha-russa.

Eu não entendo, ainda, por que você foi reaparecer na minha vida, o que me lamento várias vezes, pois acredito que nada é por acaso.

Em algum momento, eu achei que você estivesse sendo meu alicerce, meu parceiro, minha escuta, mas eu estava me destruindo.

Eu me feria também direto.

Quando eu penso em você, só me vem o trecho da música do Nando na voz da Cássia Eller: “eu estava em paz quando você chegou”.

Eu não sei se vou conseguir sentir essa coisa quase que mágica, forte por alguém de novo e que tenha reciprocidade verdadeiramente.

Só sei que quero te apagar de vez.

Quero limpar, varrer os seus resquícios em mim.

Quero conseguir acreditar que eu vou poder encontrar alguém maneiro que goste de mim de verdade do jeito que sou.

É, alguém que ache maneiro eu ser intensa.

Alguém que corresponda.

João, eu escrevo tudo isso chorando e me sinto a idiota que, há 3 anos, estava despedaçada na cama, tentando entender por que você tinha me deixado.

A diferença é que, agora, eu sei que não aconteceu pra você.

Isso me toma de um jeito horrível.

Ter que encarar a sua rejeição, nua e crua, depois de tanta coisa.

Não é uma surpresa, mas também esperava uma resposta menos pior.

Como, né?

Não seria você no fim das contas.

O que me resta é olhar pra esse troço, essa tristeza, mais cascuda e indiferente, para colocar um desfecho na minha história com você.

Eu quero e preciso que você vá embora.

Lembro que comentou achar que não estava me fazendo bem mais e olha só: acertou em cheio!

Eu espero nunca mais te reencontrar.

Não esbarre mais a sua vida na minha, João.

Adeus.

De: Mariane Amaral

Para: João (esse não é o seu verdadeiro nome).

Niterói, Rio de Janeiro.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 12/02/2021
Reeditado em 14/02/2021
Código do texto: T7182477
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