Desprezo de filho

Minha primeira carta. Realmente nem sou de escrever. Mas sabe quando se sente sozinha? Gostaria de falar com alguém, mas talvez não tenho em quem me apoiar, ou como minha irmã já mencionou, meu ego seja muito grande para me "desmontar" perante alguém. Então, sigo, na ânsia de poder me expressar, aqui escondida por um pseudônimo. Vamos lá!

Ultimamente, tenho percebido que meu filho, de 9 anos, me despreza. Hoje, ele é pequenino, mas meu coração diz que esse desprezo será cada vez maior. E é duro ser desprezada. Dói.

Hoje dormimos na casa da vó, já que nossa casa está em reforma. Dia normal e feliz. O pai dele tem dormido na reforma. Ele pede sempre pra dormir no quarto dos avós. Ontem, o pai com saudades dormiu com a gente. Ele tratou de sair do quarto dos avós para dormir conosco( pensei logo, tá dormindo conosco só por causa do pai). Hoje, meus pais foram viajar. Em casa, ficou só eu, ele e minha irmã. meu esposo foi pra casa, se despediu, e ganhou um beijo, fácil. Ao dormir, pediu pra dormir com a tia, ela negou:-"Oxi, vai dormir com sua mãe!" Senti que ele se desapontou. Tarde da noite, ele batendo uma bolinha, daquelas que vende por uma moedinha de 1 real. Chamei a atenção dele por conta do barulho. Disse que tomaria a bola se continuasse .Pra variar, já que nunca considera ou obedece, continuou batendo a bolinha. Tomei e joguei no lixo. Passou alguns minutos, fomos deitar. Pedi um beijo. Ele não queria me dar. Cobriu a cabeça, virou as costas, sua linguagem corporal me disse que não queria me dar um beijo. Então respondi, se não quer me beijar, tudo bem, boa noite

Sabe, sinto que dentro dele existe uma briga em me amar e me rejeitar, me desprezar. E o amor sempre perde. Hoje foi apenas uma situação. Existem muitas outras. Na escola, dando problema por mau comportamento, a diretora falou pra ele que eu ficaria triste com ele: o menino deu de ombros, e disse: eu nem gosto dela mesmo. Puts, eu devo estar sendo uma caca de mãe. Ninguém na vida dele é mais presente que eu. Ninguém se preocupa mais. Ninguém está atenta às necessidades dele mais do que eu. Mas é a mim que ele insiste em rejeitar. Desprezar. Sinto que daqui uns anos será um desamor total, do meu único filho. Já mencionei que dói? Pois é! Dói.

Olho pra trás e sei que nunca tive condições emocionais pra ser mãe. Sempre desconfiei que era difícil. Nunca desejei a maternidade, por duvidar da minha capacidade. Hoje, tenho certeza da minha incapacidade. Da minha falta de destreza. Do meu desequilíbrio. Sinto tanta tristeza. Poxa, sei que estou longe de ser a mãe perfeita. As vezes eu queria que minha mãe tivesse sido como eu. Minha mãe sempre foi apática, não era ruim, era boa, mas não tinha muito carinho. Não lembro dela me abraçar, nem beijar, nem cuidar do meu lanche da escola. Sempre era cuidada por terceiros ( contratados) e depois, por mim mesma.Após os meus 8 anos de idade, ela ficou doente, e até hoje só viveu para sua doença. Coitada. Vida difícil a dela. Mas me fez falta um pouco de mãe. Hoje, olho para meu filho, morro de medo dele sentir alguma falta que eu senti. Em contrapartida, sou extremamente explosiva( e sou assim só com ele) . Não sei se porque com ele tudo é mais difícil. Ele me desobedece, mesmo eu sendo mão de ferro. Tento a abordagem carinhosa, nada. Aquela que dialoga:nada. E tudo que consigo dele é no grito, ou no tapinha ou na ameaça. Sei que sou responsável pelo que sinto, falo ou ajomas Nossa como isso é frustrante e exaustivo! Ser a mãe brava é terrível. Mas não consigo ser

aquela mãe que deixa rolar, omissa, ( como minha mãe). Acho que isso fere a alma dele. Mas não consigo outro modo. E isso tá acabando comigo e com ele. O menino tá perdendo o amor por mim. E isso me dói. Já basta o afeto que me faltou da minha mãe. Agora, o desafeto de meu filho. O meu grande amor. Sabe, minha criança que há em mim, busca nele um pouco de amor, mas tudo que acho é rejeição. Sinto falta de carinho. Puts, sou carente. Não carinho de amigo, nem de marido. Mas carinho de filho. Acho tão lindo aquelas crianças que fazem aquela festa quando a mãe chega. O meu, desde pequeno, as vezes parecia até se incomodar com a minha chegada. Aí, isso dói hein. Preciso de ajuda. Às vezes, busco a ajuda divina, e apesar de ter fé, sinto que me falta resposta. Ouço só o silêncio divino. Mas gosto de acreditar que Ele me ouve e vela por mim.Já procurei psicólogo, psicanalista. A impressão é que meu dinheiro é jogado fora. Outra, nunca consegui me expressar com eles como me expressei aqui nesta carta. Uma carta a ninguém. Mas, sinto que desabafei.

Lulu ferreira
Enviado por Lulu ferreira em 10/02/2021
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