As peripécias de Moniquinha - Parte 9

As peripécias de Moniquinha - Parte 9

Vovó Lice, minha avó materna, morava no bairro de São José, defronte ao quartel das 5 pontas, quase em frente da Matriz de São José. Ela teve 7 filhos, meu avó era um português de 2 metros de altura, descendente do visconde de Santo Albino, de Portugal, chegou ao Brasil aos 18 anos, houve uma revolta muito grande em seu país de origem, não sei muito bem, mais pelo que entendi das histórias de minha vó, foi algo como uma revolução, e ele embarcou em um navio escondido, quando o encontraram já estava em alto mar, e o colocaram para descascar batatas. Seu tio, Manoel já encontrava-se aqui no Brasil, era dono da fábrica Caxias, de biscoitos em Recife. Seu tio o ajudou muito na vida, pois ele chegou aqui sem eiras nem beiras! Com o tempo, vovô, homem muito trabalhador, conseguiu com a ajuda de seu tio, abrir um Armazém na rua da praia!... Conheceu minha vó, por acaso, em uma loja, onde ela trabalhava como datilografa, uma espécie de contadora da firma de um parente, e ele assim que a viu apaixonou-se por ela. Demorou um pouco de tempo para que ele se aproxima-se dela. Ela me contava que naquele tempo, as moças andavam bem vestidas e muito bem compostas, de chapéu e luvas. E, quando ele conseguiu namorar com ela, depois de 2 anos, foi beijar-lhe à mão na porta de casa, quando se despediram e, tiveram que casar... antigamente, as pessoas tinham um muito pudor forte, e foram correndo contar a família dela! Imagine! .... quase não tenho recordações de meu avó, pois, ele morreu com 57 anos, muito novo ainda, ele era muito alto, galego, lindo e muito brincalhão. Recordo um pouco quando meu tio Geraldo, me pegou e colocou-me em seus ombros andando na rua, até chegar no armazém de vovô Quincao e me pôs sentada no balcão. Ele ficou bravo com meu tio, ele tinha bebido e não disse nada que iria me levar pra mamãe. Lá se vendia muita coisa, carne de charque, bacalhau, cereais, fumo de corda, até tecidos. Era enorme. E meu tio o ajudava lá. Também, recordo quando vovó Quincao, ainda quando morávamos na Rua Laerte Lemos em Boa Viagem, levava muito mantimentos, frutas e verduras e muitas balas pra gente. Ele faleceu de uma queda no banheiro de sua casa, sofreu um infarto e não tiveram o que fazer por ele, teve traumatismo craniano na queda. Vovó Lice nos contava que ele era um homem muito bom pra ela e para os filhos, muito trabalhador, todos na redondeza gostavam muito dele, ainda há pessoas que o conheceram e nos falam de suas várias qualidades. Quando faleceu, encaminharam de Portugal, para minha vó uma carta pedindo que ela viajasse pra lá, pois havia várias terras de heranca pra ele, mas, com tantos filhos, nao teve condições de fazer tal viagem. Tio Geraldo era o filho mais velho, era apaixonado por uma moça judia e ela também por ele, porém seus pais não permitiam seu namoro com ele, devido a religião, e eles pagaram um preço muito grande por isso. Ela ainda fugiu de casa e foi morar com meu tio, mas os seus pais a levaram a força pelo braço, e para bem longe dele e à casaram com um rapaz israelita como eles. Ela era linda, médica ginecologista, muito fina e educada. Meu tio, ficou destruído, e começou a beber muito, nunca mais quis saber de namorar, nem de tão pouco casar com outra, eu gostava muito dele, era um homem muito bom, brincalhão, gostava de contar piadas, cantar fados e me dava sempre umas moedinhas pra comprar bombons. Rsrsr.... Infelizmente, ele morreu de uma queda na rua. Meu tio Ze, era mais novo que ele, servia ao exército, morreu de pneumonia de uma chuva muito forte que levou, ainda jovem. Depois dele, veio Lipinha, mas está veio à óbito com 2 aninhos, minha vó, dizia que ela era como um anjinho, era linda e todo mundo vivia dizendo que ela não iria se criar, de tão bonita que era, de fato, ela era muito apegada a minha vó, pra onde ela ia, a menina ia atrás, minha vó um dia, foi lavar o banheiro e sem vê-la, misturou uns produtos para alveja-lo, aguarraz com uma outra substância que esqueci, daí foi uma explosão horrível, minha vó se machucou muito e quando se deu conta, sua filhinha estava morta. Ela gritava tanto que sua casa encheu de gente, ela ficou com uma depressão muito grande.... Minha tia Licinha, era uma excelente costureira, alta costura, às vezes, quando sobrava tecidos das clientes dela, e elas não aceitavam de volta, tia Licinha costumava fazer vestidinhos pra gente com as sobras dos tecidos, ela era incrível, infelizmente ela morreu bem velhinha com Alzheimer, moça velha, não quis casar, só teve um namorado por nome Raul, ele tinha uma lambreta muito barulhenta. Tia Marlene, trabalhava na Rhodia, um laboratório químico, ela era contadora de lá, mas tarde, por volta de seus 30 e poucos anos, teve uma filha solteira, e enfrentou a barra sozinha em sua criação, no sentido financeiro, pois minha vó não a deixou sozinha de jeito nenhum lhe deu todo o apoio e a ajudou na criação de sua filha. Depois, vovó Lice, teve mamãe, Carolina, como se chamava sua vó portuguesa, casou ainda menina com papai, não conseguiu terminar seus estudos no colégio Nossa Senhora do Carmo como era seu sonho, e a caçula tia Zezé, que trabalhava no ministério da Fazenda, casou já com seus 30 anos com Mário, economista, ela também já faleceu de uma cirrose hepática com quase seus 70 anos, não teve filhos. A casa da família era enorme, era de porta e janelas e o chão todo revestido de mosaico português. Tinha uma sala principal com 2 janeloes, um corredor bem comprido que levava a sala de jantar, tinha 4 quartos, o banheiro era de fora da casa, e havia uma garagem nos fundos que dava para outra rua. Eu os amava muito, faziam de tudo por nós, nos bajulavam muito, minha tia Marlene, passeava muito comigo de trem para me divertir, íamos muito a uma pracinha quase defronte a casa, a praia, também eu gostava de andar pelo mercado de São José, para comprar balas e bonecas e elas me levavam. Quando enfrentamos duas grandes enchentes em Casa Amarela, na época em que morávamos, fomos para lá nos abrigar. Realmente, elas não sabiam o que fazer para nos satisfazer. Só nos carnavais, que eu gostava de ir pra lá, era muito animado, tinha um bloco "Sabare" que papai não perdia um, adorava, saia pulando com mamãe pela ruas, com a mão por volta de seu pescoço, fantasiados, haviam muitos palhaços, bumba meu boi, muita gente fantasiada nas ruas, confetes, serpentinas, lança perfumes... Eu morria de medo, ficava em cima de um banquinho na janela da porta da casa de minha vó, e quando via algum monstro se aproximar de mim, corria pra debaixo da cama, uma vez, cheguei a fazer xixi na calcinha de tanto medo. Mas, eu gostava mesmo, era da casa de minha vó Dinda, por causa de minhas duas irmãzinhas que eu amava muito. Lá na casa de Vovó Lice, só tinha gente idosa, e as brincadeiras que eu gostava era está ao lado de minhas irmãs mais velhas.... Minha irmã mais velha, sabia tocar acordeon, parecia uma princesa de tão linda, educada, bondosa, carinhosa, estudiosa igual à minha mãe, tinha os cabelos longos na cintura e bem loiros, vivia desenhando em seus cadernos umas bonecas lindas de perfil e de frente com os cabelos bem cacheados, eu achava lindas, como tudo o que ela fazia, uma vez enquanto ninguém via, eu as copiei em meus cadernos, colocando a folha do meu sob a folha do caderno dela, e um dos meus primos viu e ficou dizendo pra todo o mundo o que eu tinha feito, pois eu disse aos outros que eu tinha as desenhado sozinha. Rsrsrs..... fiquei muito chateada com ele..... Eu sempre quis ser igual a ela!

Mônica Farias
Enviado por Mônica Farias em 04/02/2021
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