momento

“…a vida é um suceder constante de momentos… o momento actual é o que se segue ao momento anterior e é o que está presente antes do próximo… verdade sem qualquer contestação por demasiado óbvio… no entanto, ela é feita exactamente desses momentos que se seguem ininterruptamente numa sequência, não aleatória, mas com uma finalidade… o problema, o eterno problema, é que nunca sabemos qual será ou como será o próximo momento… é como quando eu escrevo… eu não sei o que estou a escrever porque deixo que os momentos se transformem em palavras ou então estas sejam os tais momentos seguidos uns aos outros… só que estes meus momentos também vivem dentro de outros momentos sem serem ou sem passarem pela palavra escrita ou dita, redita, reescrita, bendita ou maldita… os meus momentos também possuem momentos de muitas outras coisas: estão cheios de vida, de coisas, de sabores, de saberes (como costumo dizer, frase já tão batida, tantas vezes dita e escrita mas que não deixa, por isso mesmo, de ser uma outra verdade), de sorrisos, de lágrimas, de silêncios (nunca de gritos porque não consigo gritar e este constante abafar dos meus gritos por gritar fazem-me mal: afogam-me, devoram-me, estrangulam-me numa dolorosa sequência de silêncios), de silêncios tais (tantas e tantas vezes descritos nos meus escritos, nos meus rabiscos…) que a amargura desses silêncios se tornam em doces momentos: aqueles em que olho para dentro de mim e me desconheço conhecendo-me… aqueles em que olhando para dentro de mim, me conheço sem me reconhecer… vagueio dentro de mim mesmo numa ânsia de saber quem sou, o que quero, qual é o meu próximo momento… e é nesses momentos em que indago pelo próximo que aí virá que me nego, que me fecho, que me torno eu mesmo no meu próprio momento: eu sou, sem qualquer sombra de dúvida, o meu único momento…”

Joaquim Nogueira