CARTA ABERTA PARA O ANO QUE TERMINA

Caro 2020, acredito que no futuro vamos nos referir a você como O ANO QUE NÃO DEVEMOS MENCIONAR, e não são poucas as razões para isso. Pois é, cá estamos nós (finalmente) no seu último dia. Queria eu dizer que foste um ano terrível, mas que no fim das contas, se nos esforçássemos bastante, veríamos que as coisas boas superaram as ruins. Queria mesmo, só que não foi assim e eu teria que ser muito mais burro do que já sou pra errar uma conta fácil dessas.

Você já começou me dizendo a que veio: mal chegou e arrancou, sem nenhuma dó ou piedade, um pedaço do meu coração - uma perda da qual jamais vou me recuperar e que deixou em mim (mais) um vazio que nunca será preenchido. No meu dicionário, a palavra SAUDADE ganhou mais um sinônimo em forma de nome próprio.

Quase que em seguida a sombra do vírus que já aterrorizava outras partes do mundo finalmente alcançou o meu país (falaremos sobre ele mais pra frente), o que era inevitável, trazendo consigo uma onda de pânico, terror e paranóia que, justificável ou não, tomou conta de tudo e todos - direta ou indiretamente. Da chamada LINHA DE FRENTE, embora num hospital de cidade pequena, vivi momentos de tensão junto aos meus colegas de trabalho, onde meu maior medo não era (e nem é) me contaminar e sim, ainda que com todos os cuidados, levar o vírus para casa, para minha família e amigos. Devidamente paramentados (hajam máscaras, álcool gel e demais EPI's!) e munidos principalmente com coragem e dedicação, estamos dando conta do recado.

Voltando ao Brasil, já não estávamos nos nossos melhores dias devido a uma disputa pseudoideológica que me mostrou o pior lado de algumas pessoas que eu achava que conhecia e realmente gostava. Não, não cheguei a desgostar gravemente de ninguém, mas muita gente caiu significativamente no meu elevadíssimo conceito (não que isso faça qualquer diferença que seja para alguém além de mim). Falo sobre indivíduos de ambos os lados da guerrinha de egos e interesses disfarçada de posicionamento político, gente que no fundo só não quer dar o braço a torcer e passa muito longe de colocar em prática no próprio dia-a-dia os ideais que supostamente defende com unhas e dentes nas redes sociais. Juro por Zeus que gostaria de entender uma criatura que critica vorazmente o(a) Presidente(a) da República ou o prefeito eleito de outra cidade, em outro Estado (ou ainda, PASMEM, o presidente eleito em outro país), mas não dá as caras nem na assembléia de moradores do próprio bairro. Em uma análise bem rasa, me parece que projetam suas mazelas, vilanizando agentes externos por não conseguirem lidar com os próprios traumas, complexos, medos, frustrações, desgraças e inseguranças. Se as coisas pararem de dar errado, dentro de 4 anos terei um excelente profissional para indicar àquele(a)s que quiserem ajuda quanto a isso. SE sobrevivermos até lá, claro - brincadeirinha, mas ISSO é sério: não vejo a hora de ver algumas pessoas de quem realmente gosto voltarem a ser elas mesmas. Me recuso a crer que a versão atual seja a verdadeira, apenas estão fora de sintonia com suas próprias essências ou tentando agradar a terceiros (sem se dar conta de que o que quer que seja que estejam recebendo em troca não passam de migalhas).

É, 2020, e pensar que você foi para mim o ano mais aguardado das últimas duas décadas, o ano em que após um longo hiato eu finalmente voltaria a estudar. Voltei, aliás, no que talvez seja a única novidade realmente boa e digna de nota. Mas mais do que isso, seria a primeira vez em muito tempo em que eu me dedicaria a algo que seria exclusivamente meu: a tal da Psicologia, que mal entrou na minha vida e já mudou bastante meu modo de ver algumas coisas (e endossou umas outras tantas), além de trazer para minha história uma nova gama de personagens que acabaram me conquistando - tanto pelas semelhanças quanto pelas diferenças. Conheci colegas e professores sensacionais que espero ter comigo por muito tempo ainda, embora estejamos apenas começando nossa jornada juntos, A SAGA DO TRIDENTE!

Mesmo com um saldo tão negativo, você foi um excelente professor, e quanto a isso não tenho absolutamente nenhuma dúvida. Me ensinou a valorizar ainda mais as pessoas que amo, a saúde (minha e delas), a liberdade de uma simples ida ao supermercado sem precisar usar máscara e nem me banhar em álcool gel, ou ainda o simples prazer de dividir uma porção de batatas fritas com os colegas no intervalo da aula, ou um churrasco de confraternização, uma festinha de aniversário, um beijo, um aperto de mão, um abraço...

"Muito obrigado", 2020: ainda bem que você acabou! Já vai tarde, e foda-se, seu ano de merda!

Bem-vindo, 2021!

E seja gentil, que estamos precisando!

Betaldi
Enviado por Betaldi em 31/12/2020
Código do texto: T7148198
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