Baú de Cartas - A Primeira

Oi, mô.

Então… Eu estava querendo escrever algo pra ti já tem um tempinho, mas sempre andava sem inspiração pra nada, sabe como é essa coisa de escrever. Eu acho que você tem razão sobre muita coisa que eu não gosto de admitir. Isso de escrever, por exemplo, não se trata de inspiração e sim de hábito. Eu tenho que praticar escrever nem que seja uma página por dia, mesmo que fique uma meleca, e depois, em um dia em que eu estiver inspirada, revisar o que escrevi. É assim que tem que ser, e eu sei disso. Só que eu sou teimosa, e eu me perco nos meus questionamentos e insegurança, eu tenho um medo tão grande de falhar nas coisas, sabe? Esses dias eu pensei sobre nós, eu cheguei a pegar as caixas que você me deu e ler tudo o que deixei guardado ali, ri dos desenhos fofos que tu fez, não rir de achar cômico, mas aquele riso de... Não sei explicar, só… Sei lá, achei tudo muito fofinho. E… Eu acho que são coisas que talvez não voltem. Em uma das cartas você disse que eu deveria me considerar com sorte de você escrever pra mim, e eu acho que você estava certo, sabe? Sobre eu ser irresponsável e desorganizada. Eu sempre andei segura de mim. Não me importava com o que as pessoas julgavam ou diziam ao meu respeito. Às vezes eu queria saber quando foi que eu perdi essa impetuosidade, essa determinação tão forte de tacar o foda-se pra tudo. Enfim, acho que tô emotiva ao triplo hoje. Eu fico ansiosa com medo que dê tudo errado, que essa questão do emprego seja uma pegadinha, e que do nada vai chegar alguém e falar: Enganei a boba, e tal. Parece loucura até pra mim, mas não consigo deixar a sensação de que vai dar alguma coisa errada, parece que ultimamente eu tenho medo até de respirar.

Eu li as suas cartas de novo e consegui sentir o quanto tu cresceu. O quanto você amadureceu desde que nós nos conhecemos. E eu me perguntei, acho que essa foi uma das poucas vezes que fiz isso, mas me perguntei se eu realmente estava te fazendo bem, se realmente estava te fazendo feliz. Você disse esses dias que estava tendo pesadelos direto, que em um deles eu estava te traindo. Eu me pergunto se eu estou ‘incentivando’ isso com o meu jeito. Se eu estou deixando faltar algo ou agindo de alguma forma que você não se sinta seguro. Porque, não é por mal, sabe? Pra mim é tão natural amar você que eu às vezes não vejo necessidade de ficar demonstrando. Sei que é essencial demonstrar e falar certas coisas, mas é que eu sinto como se eu não tivesse que provar mais nada pra ninguém. Sobre tudo o que eu sinto por ti. Eu não me questiono sobre o que eu sinto e o único questionamento que tenho me feito sobre o futuro é o que a gente vai comer no final de semana ou assistir. Não é como se eu sentisse necessidade de ficar pensando em ‘se’ vamos estar juntos no próximo final de semana, eu tenho certeza que vamos. E acho que isso tá errado. Porque talvez com esse pensamento eu não esteja te valorizando tanto. Talvez eu tenha me acomodado e isso faça com que eu não cuide direito de ti.

Então, eu queria voltar to the night with met. E sentir você erguendo meu queixo de novo e dando nosso primeiro beijo. Não sei se eu já te disse, mas meu coração disparou naquele momento, parecia que o mundo tinha parado. Eu costumava pensar que eu nunca tinha me ‘apaixonado’ por você, aquelas paixões porra loucas que faz você sair desenfreado atrás da pessoa, sabe? Eu falava pra mim mesma que gostava de ti e que esse gostar estava em constante evolução, até se tornar amor. Mas, na verdade, eu me apaixonei muito por ti. E tenho me apaixonado cada vez mais, mas realmente não é aquela paixão doente e bizarra que faz a gente fazer coisas estúpidas. É um tipo de paixão diferente. É algo agradável e gostoso de sentir, sabe? Me faz ter saudade, me faz pensar em ti e sentir arrepios, me faz querer teu abraço. E tudo isso sem doer, sem machucar. E pensar que poderia existir uma paixão saudável. Acho que é porque, no meu caso, o amor veio primeiro. O companheirismo. A confiança. A amizade. Hoje eu posso dizer que não há pessoa no mundo que me conheça como você conhece. Obrigada por cuidar de mim e ser meu porto seguro. Obrigada até mesmo pelas brigas, porque eu sei que muitas vezes eu mereço uns puxões de orelha. E por tu se esforçar por nós, por me ouvir e se prontificar a mudar até algo teu (a insegurança e tal) por nós. Eu tô tentando fazer a minha parte, tentando ficar mais próxima de ti, desculpa se às vezes eu não consigo e te afasto, não é por mal. Enfim, só queria dizer que eu te amo muito. Hoje eu sinto sua falta mais do que nunca.