Querida

Querida,

Nos tempos líquidos ou chuvosos declaro que me sinto ‘um periscópio sobre o oceano do social’, como em Provocações, talvez também, como um cão sem dono, apesar de nunca ter visto um dono antes; vejo que, quanto mais desejam algo ou, alguém o risco do mesmo esvair é denso, minha tendência de estar sozinho em meio à multidão é deliciosa, apesar que, minha carência possa florir a cada caso e acaso numa estação clara ou opaca.

Querida, sinto que cada dor, dor que muitos sentem hoje, não passa de um lanche, aliás, no máximo um jantar, com direito a véu e grinalda para carência, desfrutam de palavras agradáveis, tal qual não se resulta ao correspondente significado, fins de agradar a si, somente a si! Estou fugindo, literalmente, pacatamente, ardilosamente, de cada esquina que contém sombras de carência, desespero ou ansiedade. Sinto que cada palavra escrita por mim seja lá onde for, muitos acham que estão direcionadas a mim, não aos meus personagens, minhas nuances distorcidas de sanidade, minha vontade pelo desejo repleto de porquês. Por que lembro a todos que o melhor do mal é o bem? Sabe... Aproveitamos do sofrimento com um viés artístico, num palco direcionado a um espetáculo vazio, onde repelimos constantemente o inevitável, que muitos colocam sentido nisso. Querida, não sou feliz, pois não acredito no mesmo, felicidade é uma idéia velha, que é facilmente confundida com instantes de alegria.

Peço que me entenda, através desta carta, um pouco daquilo que eu, Autran, penso sobre tal causa perdida... Veja bem, ensine tudo que puder ensinar, deixe claro a quem for ensinar, não alimente seu ego com o mesmo, jamais, isto não é a fonte da imortalidade. Viva até quando puder pensar.

Abraços, querida!

Otávio M Alves
Enviado por Otávio M Alves em 09/12/2020
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