A ÚLTIMA CHAGA - Fantasmas no luto

Surpresa com o telefonema, expliquei aonde eu estava e a situação em que me encontrava naquele momento. Depois de uma breve explicação, desligamos o telefone com a promessa de mantermos o contato, devido ao seu aparente e intenso interesse em me ajudar em um momento tão delicado e difícil da minha vida.

Após a uma exaustiva tentativa de atendimento e de internação que se deu início a noite e entrou madrugada à dentro no dia anterior, finalmente fiz a visita ao pai do meu filho, que não estava em uma situação já nada boa. Era de tarde, por volta de umas duas horas e lembro de ter passado todo aquele dia no hospital. Entrei novamente madrugada à dentro para que ele pudesse ser transferido para uma unidade dentro do próprio hospital, que atendesse com mais urgência o estado crítico em que ele se encontrava.

Depois de muitas burocracias internas, lembro de ter deixado o hospital por volta das três da madrugada com uma certa esperança no peito de visitá-lo no dia seguinte. Dormi poucas horas e quando me preparava na manhã do mesmo dia, a cunhada dele que também estava junto comigo cuidando do seu caso, me ligou dando a notícia do seu falecimento. Ainda estava vestida com o meu roupão de banho, quando então comecei a chorar. Olhava o meu pequeno filho dormindo em sua cama, totalmente alheio à muito do que estava de fato acontecendo, e meu coração se despedaçava. Até o dia de hoje não encontro palavras que expressem toda a dor daquele momento...

Por algum instante e ainda vivendo aquele momento, recebi já cedo uma mensagem do Claudio pelo whatsapp, perguntando se eu já tinha saído para a visita, e foi quando também o notifiquei do acontecido. Ele me ligou imediatamente, disse muitas palavras de consolo que confortaram um pouco o meu coração. Entre muitas delas, as que mais me encorajavam era quando ele dizia que eu precisava ser forte pelo o meu filho.

Passado o processo do enterro, mas não o do luto, eu e Claudio continuamos a conversar. O mesmo estava aparentemente mais calmo, equilibrado, otimista e citando passagens da bíblica como alguém que estava voltando para a sua fé cristã. Ele novamente me pediu amizade em suas redes sociais e então foi por ali que eu passei a buscar a veracidade das suas histórias narradas desde a nossa separação. Dizia estar descomprometido por algum tempo, ter sido inocentado do processo da denúncia da sua ex-mulher e não poupava esforço em tecer elogios à minha pessoa.

Apesar de sentir-me sozinha em todo aquele cenário, eu não me sentia mais tão carente da presença de uma figura masculina na minha vida para me ajudar ou me completar. Foram tantas tragédias acontecendo seguidamente, que hoje eu posso dizer que apesar de toda a dor e sofrimento, eu me sentia de certa forma anestesiada.

Não demorou muito para eu achar algo estranho no relacionamento entre Claudio e uma mulher que ele havia falado de ter somente uma amizade. Haviam muitos comentários que sugeriam algo a mais... Já saindo da fase das frágeis bolhas e criando os meus calos, eu não tinha mais tantos receios em ficar pisando em ovos com ele, e tão pouco medir as palavras por medo de ser mal interpretada, como fazia anteriormente e com muita frequência. Falei o que vi, disse o que pensei e confrontei seus argumentos sem medo. Até mesmo porque o meu relacionamento com Atan me ensinou e me obrigou a fortalecer as minhas defesas.

Lógico que ele não gostou de ser confrontado e muito menos da ideia de ser chamado de mentiroso. Mas, se dizendo mudado e também me vendo mudada, procurava se manter calmo comigo e deixar que eu pensasse o que quisesse, embora a verdade para ele, sempre seria a sua versão dos fatos.

A data dos nossos aniversários estavam se aproximando, era final do mês de junho e o de Claudio era apenas três dias antes do meu. Eu não estava muito animada para comemorar nada e ele também dizia o mesmo sobre o dele. Insistiu veementemente que não tinha nada para comemorar, pois sua vida segundo ele, até ali só tinha decepções. Mas ainda assim, marcamos um passeio para a data do seu aniversário. Pouquíssimos dias antes, fiquei super indisposta devido estar entrando no meu ciclo menstrual e o notifiquei do cancelamento do nosso encontro, devido a tal fato. Ele se mostrou indiferente ao cancelamento, disse que não tinha problemas, que eu ficasse bem e que isso sim era o mais importante para ele.

Passado esse tempo, notei que Claudio havia me excluído da sua rede social e me bloqueado em seu whatsapp. Estranhando o acontecido, fui até o seu facebook e lá estavam para o público ver, fotos dele com a mulher que ele dizia ser apenas uma amiga. Estavam em um passeio bem romântico em Petrópolis e com legendas provocativas, direcionadas à mim lógico, visto que inicialmente, o passeio estava marcado para ser comigo. Eu preciso rir agora com o nível de filha da putagem desse tipo de homem, visto que na legenda de uma das fotos dizia: "Eis que Deus enviou um anjo para salvar o meu dia." Além de continuar mentiroso, resolveu adotar Deus como parte do processo de suas maquinações.

Lembro de na época ter ficado um pouco pra baixo, não tanto pela provocação em si, mas por ver o cruel tamanho da sua insensibilidade. Foi onde comecei ainda que em curta escala, a dar mais ouvidos à minha intuição e a perceber que eu de fato, atraía com muita facilidade, pessoas com personalidade narcisista.

Sua crueldade não parou ali, depois de alguns dias, voltou a me desbloquear em seu wathsapp, apenas para que eu visse que ele tinha colocado no perfil do mesmo, uma foto dele com o rosto colado no dela. Eu não o bloqueei, pois intuindo e já conhecendo o humor da figura, sabia que a festa não duraria por muito tempo. E esperei para ver o desfecho, até mesmo porque naquela altura, eu já não sentia mais nada por ele e nem por ninguém.

Nesse meio tempo eu tinha muito com o que ocupar a minha mente e o físico também, visto que ainda tinha que me desfazer de muitas coisas do falecido pai do meu filho. Além de ser uma fase de muita reflexão sobre a vida para mim, também tirava uma parte do tempo para escrever. E foi escrevendo neste recanto que me deparei com um e-mail em resposta ao texto "A dor" anteriormente citado. Era um comentário de força e incentivo de um dos escritores que eu lia assiduamente neste site, desde o ano de 2013. Com o seu verdadeiro nome no e-mail, o procurei no facebook, mas não tive coragem em pedir sua amizade. Pelo menos não naquele momento.

Tocando a minha vida e sendo ajudada e orientada por alguns familiares e amigos sobre pensão e outras coisas, Claudio voltou a me procurar sempre com a sua frase chave: "Oi sumida!" Sim, eles têm essa cara de pau! Eles mesmos bloqueiam, depois voltam como se nada tivesse acontecido, e pior, como se fosse eu realmente de fato que tivesse sumido. São pessoas altamente perturbadas, que se não cortarmos imediatamente o vínculo, ou ficamos como eles, ou adoecemos.

Procurei instantaneamente ver o que havia de fato acontecido, e como eu havia intuído, estava acontecendo a maior treta no facebook da mulher com quem ele havia saído. Pelo pouco que percebi, eles assumiram um compromisso de relacionamento sério pelo mesmo, mas que não durou nada, visto que à sério, era algo que Claudio não podia ser levado. Vi um monte de pessoas consolando a mulher e repudiando a atitude dele. Claro e óbvio que na versão dele, o lobo mau era ela, que segundo ele, ainda mantinha contato com o seu ex.

Como naquela altura eu já estava pouco me importando, disse tudo o que eu pensava à respeito dele, e dessa vez eu mesma fiz questão de bloqueá-lo em tudo. Ainda assim me enviava algumas mensagens via SMS, e conforme eu não respondia algumas e outras eu respondia à altura, por fim e finalmente, disse que eu ficasse com Deus.

Quando foi em julho tomei uma atitude, finalmente pedi amizade àquele que cuja a minha futura união, iria desencadear uma sequência de eventos encantadores ao mesmo tempo que macabros...

(Continua...)