A ÚLTIMA CHAGA - Um rastro de morte

Já acomodada na casa do pai do meu filho, lá em meados do ano de 2016 conheci um homem pela internet, cujo nome citarei apenas a abreviação da inicial do mesmo, chamando-o assim de Atan.

Como sempre esse grupo de abusadores identificam suas vítimas e as envolvem, comovendo-as com uma história muito triste. É bem no estilo "serpente" mesmo, onde o que no início parece ser um abraço quente e acolhedor, vai se tornado em uma prisão sufocante, até deixar a vítima quebrada, asfixiada e em muitos casos sem vida jogada ao chão. Ou seja, se não as matam, no mínimo as quebram por inteiro, sugando a energia vital das vítimas, aniquilando a sua autoestima e em muitos casos até se aproveitando financeiramente. Sim, como se não bastassem todos os danos psicológicos e físicos, muitos abusadores são usurpadores também.

No caso do Atan, era a sua irmã Cida, paciente terminal com câncer em uma UTI instalada no quarto da casa aonde ele residia. A história era verídica, cheguei conhecê-la pela câmera quando a mesma ainda estava consciente. Havia um revezamento da família para ficar cuidando dela quando o quadro foi piorando, pois a mesma se mexia muito e acabava por arrancar os fios dos aparelhos que a monitorava. A escala dele era na madrugada, e eu perdi a conta das noites que passei sem dormir para fazer companhia à ele.

Nos conectamos posteriormente pelo facebook, inclusive, ele e a mãe dele. Ele era de Volta Redonda, e dizia ter uma boa situação de vida, que era sócio em uma loja de informática e mandava muitas fotos para comprovar a veracidade de seu trabalho e bens. Prometera me tirar da casa do pai do meu filho assim que a sua irmã melhorasse ou não, pois era a única coisa segundo ele que o prendia naquela situação de estar residindo em uma casa nos fundos do quintal da sua mãe.

Com a piora do quadro de saúde de sua irmã Cida, ele disse para eu me preparar, pois me pegaria para ir ao velório da mesma e finalmente nos conhecermos pessoalmente. Lembro que na época cheguei a comprar uma roupa para a ocasião fúnebre. Ocasião esta que lamentavelmente veio a acontecer, mas não a sua promessa. Deu um monte de desculpas para a quebra de sua palavra, mas continuava afirmando que me amava e inclusive a meu filho, e que nos daria uma vida a qual julgava que merecíamos.

Óbvio que com o passar de mais de seis meses apenas conversando e sem uma aparição dele, eu comecei a me questionar sobre a veracidade das informações fornecidas por ele. Comecei a pedir provas, que ele ligasse a câmera quando fosse visitar a sua casa e quando estivesse no trabalho. Continuou enviando apenas fotos e nada de câmera ao vivo. Comecei a colocar mais pressão e então, ele sentindo que não teria como manter por mais tempo suas mentiras, começou a me intitular de louca, paranoica, ciumenta e outros predicados.

Foi através dele que passei a conhecer melhor o Candomblé, pois segundo ele, era frequentador e para a minha curiosidade, costumava aparecer com alguns machucados visíveis pela a câmera. Eu perguntava o que eram aquelas marcas e ele dizia que "os santos" o haviam derrubado na rua. Isso era frequente, e eu sabia que o nome dessas quedas frequentes em plena rua, se chamava "surra de santo".

Durante nossas conversas o santo dele incorporava do nada e urrava horrores. Eu ficava olhando e fazia minhas orações pedindo a Deus que o trouxesse de volta à si. Quando isso acontecia, ele sentava de frente para câmera, fumava muitos cigarros e bebia uma garrafa de cachaça que ficava ao lado da mesa do seu computador. Ele não me ouvia e nem me via, era outra pessoa ali. E quando começava a urrar, sua mãe precisava entrar e trancar a porta e colocava a mão em seu ombro, fechava os olhos e fazia alguma oração em voz baixa. Ele retomava a si e depois me explicava o que acontecia e como era a sensação durante e depois que o espírito saía dele.

Atan era um homem que contava muitas histórias. Pude também perceber que abusadores tem por característica a eloquência. E entre muitas palavras, apelava para o meu emocional dizendo que precisava de mim, de alguém como eu e meu filho em sua vida. Que éramos especiais e importantes para ele e que já não viveria mais sem a gente.

Mas, o tempo passava e nada das provas e nem de sua aparição, sempre contando alguma desculpa. No geral também são bem convincentes em suas afirmações. Por último, pasmem, tentou uma tentativa de um golpe, me pedindo meus documentos de CPF e RG com a desculpa de que me incluiria no seu seguro de vida. Foi quando percebi que estava sendo iludida e enganada e passei então assim, a ignorá-lo. Retirei-o do meu facebook, o bloqueei no WhatsApp e foi onde as chamas do verdadeiro inferno começaram a arder com mais força para o meu lado. Começou a fazer uma inúmera série de contas fakes e me adicionar, me enviando primeiramente mensagens de amor, desculpas e pedidos de retorno com promessas de melhoras no relacionamento.

Aqui aparece um ponto de convergência entre os psicopatas e abusadores, que é a ameaça de tirar a própria vida. Relatei o caso do Claudio, sendo que no caso deste, era por causa da sua ex-mulher e sua situação de vida, para que eu sentisse mais compaixão e pena por ele. Mas, Atan era um nível mais alto de abuso para a minha vida. Chegou inclusive a enviar a foto de uma arma para mim, primeiramente sugerindo a ideia de tirar a própria sua vida, que a notícia do seu suicídio chegaria até mim e que eu teria que conviver com a consciência pesada pelo resto dos meus dias.

Essa tática ainda assim funcionou por um curto período de tempo, visto que sim, eu acreditei que ele era louco e desequilibrado o suficiente para cometer tal ato. Mas, como não durou muito tempo a volta do nosso contato virtual e nem eu era mais a mesma, a ameaça mudou. Quando viu que eu estava realmente e definitivamente determinada a terminar a relação, começou a direcionar as ameaças à mim. Dizia que sabia aonde eu morava mesmo sem eu nunca ter dito e o que aconteceria comigo caso eu o deixasse.

Eu fiquei apavorada, lógico! Então ele começou a se utilizar de seus perfis fakes para realizar suas ameaças e direcionar xingamentos à minha pessoa, de acordo com a medida que eu ia bloqueando os mesmos. Até que um dia ele achou uma outra vítima e passou a me deixar de lado. Claro que ele contou a nossa história totalmente distorcida para ela, que chegou a me procurar. E eu lógico contei toda a verdade que aconteceu e que ele não era o homem que dizia ser. Ela assim como eu, carente na época, infelizmente preferiu dar ouvidos à ele, que insistia em dizer que eu quem não saía do pé dele, o assediava, era extremante ciumenta e que estava tentando sabotar o seu novo relacionamento com ela.

É assim que esses abusadores agem. Manipulam, mentem, distorcem e acreditam fielmente no que dizem. E nem preciso dizer que com o tempo a outra criatura também sofreu as mesmas coisas que eu, depois que as mentiras deles não se sustentaram mais, assim como foi comigo. Por fim, todas as fotos de carros, casas, e lojas que ele havia me mandado, mais tarde fiquei sabendo por um sobrinho dele, no qual entrei em contato, e este me revelou toda a verdade. Disse que Atan era um ferrado na vida, que as fotos eram de um tio dele que tinha uma situação boa, mas que já havia falecido. E que Atan já esteve melhor na vida sim, mas naquele momento, ele dependia da sua mãe e estava no fundo do poço.

Em março de 2017 eu já havia me livrado ainda que de forma exaustiva das garras dele, e foi onde o pai do meu filho começou a piorar e veio a falecer no final do mês de maio do mesmo ano. Logo após as decepções e dores adquiridas neste relacionamento extremante abusivo, pouco meses depois tive que lidar com o falecimento do pai do meu filho e pior, consolar uma criança de apenas 7 anos de idade. E foi nesse mesmo período também que nasceu um dos meus escritos neste recanto, intitulado "A dor", cujas linhas demonstram toda a minha dor vivida, ainda que de forma conotativa. Texto este tão intenso e carregado de emoções, que se tornou a ferramenta principal para o meu envolvimento com uma outra pessoa que viria a ser o meu futuro namorado. História esta que será relatada mais adiante. Depois que tudo passou, prometi para o meu filho que seríamos só nós dois e que nunca mais colocaria as nossas vidas em risco outra vez.

Voltando um pouco atrás e exatamente um dia antes do falecimento do pai do meu filho, enquanto eu aguardava na fila da visita para vê-lo no hospital, recebi uma ligação. O ID do meu celular não identificou o número, mas a voz não me era estranha. Era Claudio, o policial civil que não quis me assumir, perguntando como estávamos eu e meu filho e o que eu andava fazendo de bom...

(Continua...)