Carta Declaração

Fico imaginando se do mesmo modo que espero a chegada de alguém com o mínimo de valor por quem o meu coração em uma nova tentativa irá ceder aos encantos do Amor, se é bem provável que qualquer outra pessoa também se encontre num propósito parecido aguardando a outrem, ou mesmo a mim. Quiçá. Partindo da ideia de um romantismo alicerçado ao nosso cultivo. Talvez espere “esperando”, ou espere de modo a compartilhar sua própria companhia com demais desconhecidos, ou até conhecidos. Fato é, que, me vejo recuperando os músculos do peito para uma possível oportuna hora. Querendo dizer, claro, que uma “oportuna hora” independe aos nossos próprios anseios. Quando me apaixonei e dei sequência aquele que seria o meu primeiro relacionamento, só para caráter de percepção, foi como quando estamos a olhar um objeto a pouquíssimos centímetros do rosto. Sim, isso se torna compreensível após a passagem das coisas. Favor não confundir com Primeiro Amor, não falo daquelas questões que envolvem o Platônico. Entretanto, não apenas se referindo a relação amorosa, nossa visão se compromete ângulo a ângulo. De certo. Mas para que pudesse tornar esta experiência um dado analisável a partir de um novo ponto, passou-se por mim diversas outras emoções, ações e reações. Até que, segundamente, surge outro alguém. Meu coração não se mantia aos níveis de empolgação. Mas aí que está: um Amor pode ser construído à medida que se cultiva. E de igual modo perder sua estabilidade por negligências fúteis, porém comuns. E isso também se encaixa na descrição sobre entendimento de causa a posteriori. Respondendo a mim, ao menos. Passado as inconstâncias naturais, sobrou-me os conflitos existenciais. É como primeiro explico, e como um dia me possibilitei a escrever num desses textos em ênfase e estrutura poética sob minha autoria no qual me envolto inquietamente a tantos sentimentos:

Eu vinha sob vinho e saudade...

Ventando estava o peito

E de carne viva era a estrada.

Quem me fitava era o decote

Dum mesmo ébrio pigarro;

Era o velho gosto não provado,

Era o desgosto borrifado

No copo que agarrei fingindo que bebia.

(Ao amor que fica – Lidiane Cristina)

Fim.