Carta para um Senhor distinto III

Senhor distinto III - O Destino

Caro Senhor Destino! Eu vos saúdo e reconheço!

Se é verdade que tudo está determinado pela providência divina, esta missiva chega até vós sem nenhuma surpresa, posto que já era esperada e estava prevista nas suas entrelinhas.

Mas, não obstante a sua predeterminação fatídica, presumo que o conteúdo da mesma vá lhe causar estranheza e, talvez, uma certa satisfação. Afinal aqui jaz um ser humano que reconhece a sua insignificância e impotência diante da vontade celestial, da ordem cósmica ou, quiçá, da fatalidade.

Não pense que me acovardei! Não é isso! Apenas estou cansada da sucessão de fatos inevitáveis que me mantém presa à essa sorte, fado, fortuna, ou seja lá que nome seja dado ao fato de caminhar sempre para um futuro que se mostra imutável. Não importa o quanto eu

o rejeite, critique e deseje evitar.

Não me considero covarde porque, tendo a infância que eu tive, contrariando todos os prognósticos sociais de que "não seria ninguém na vida" eu sempre acreditei que agi como co-autora da minha história.

Superei diversas dificuldades físicas, familiares, emocionais, econômicas e culturais. Enfrentei bullying, estigmas sociais, fome, nueza e abandono entre outros problemas.

E apesar desses fatos, me tornei a primeira pessoa da família a frequentar uma Universidade Federal, a ser aprovada em concursos públicos, me tornei produtora cultural na área de educação, poesia e da pintura.

No campo pessoal me tornei uma mulher de bem, mãe dedicada, esposa, profissional respeitada, e hoje me arrisco na poesia e na pintura amadora com certo êxito. E, tudo isso, eu sempre atribui à minha ousadia e coragem de sonhar. Sempre pensei que fosse fruto da minha capacidade de traçar objetivos para realizar esses sonhos.

No entanto, parando para observar direito a minha trajetória, também lembrei das inúmeras vezes que tentei mudar os caminhos, as companhias, os sonhos e as atitudes, e não pude fazê-lo. E não importa quais tenham sido as razões para essa impotência. Fui incapaz de mudar o que não me agradava e ponto. Simplesmente falhei!

Nos últimos tempos essa impotência tem se revelado ainda maior. Conversando com amigos, percebo o quanto estou paralisada e confortável no "meu lugar comum" da mesmice. Não há explicações para isso!

Eu já fiz terapia, um monte de poesias depressivas, pus a culpa no eu lírico, no coração, na mente, nos deuses, na apostasia da minha alma, no abandono do meu pai, na infidelidade do companheiro, na ingratidão dos filhos, na fraqueza da minha mãe, na falsidade do povo, na minha covardia e na hipocrisia religiosa.

Enfim! Até da minha saúde mental duvidei quando outros duvidaram.

Então resolvi parar de procurar culpados.

Ultimamente passei a analisar a sucessão de eventos que aconteceram comigo só nesse ano de 2020.

E eis que, como num insaigth, eu percebi a razão de tudo! É maior que tudo que foi citado anteriormente. É a resposta que eu preciso agora. A única capaz de explicar o fato de " ele ter me chamado numa manhã de sábado", e me encontrado tão frágil que não enxerguei mais nada. E quando pus os meus olhos, e apenas isso, em seu semblante, o desejei pra mim. Mas da mesma forma que o vi chegar o vi partir. De repente. Num piscar de olhos, ou pra ser menos romântica, num apertar de teclas on e off.

Então entendi: É o Destino!

Só pode ter sido o destino insensível, cínico e sarcástico.

E eu, apenas mais uma marionete em suas mãos.

E que fique claro!

Não acredito que "Destino" e "Sorte" sejam as mesmas coisas. Não importa quem afirme tal sentença.

Adriribeiro/@adri.poesias

Adriribeiro

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 09/11/2020
Reeditado em 10/11/2020
Código do texto: T7107961
Classificação de conteúdo: seguro