Carta para um Senhor distinto I

Senhor distinto I - O amor

Prezado amor! Receba minhas sinceras saudações!

Espero que esta missiva encontre-o firme, forte e fogoso como descreve-te os corações poéticos. Os mais otimistas e realizados, diga-se de passagem.

Hoje eu venho lhe dizer que, apesar de ultimamente haver negado sua existência mais vezes do que seria considerado normal, eu sempre acreditei em vós, na sua capacidade de curar qualquer infortúnio e de pôr nos rostos humanos os mais belos e genuínos sorrisos.

Mas preciso confessar que a minha crença na capacidade de amar das pessoas tem diminuído muito ultimamente. E isso não venho até aqui para negar. Pelo contrário. Venho só justificar as minhas convicções.

É bem verdade que, tendo sido criada num cenário caótico produzido por um lar desfeito, eu não teria como desenvolver uma visão totalmente otimista do amor.

Mas, durante muito tempo eu tentei ( e juro que tentei muito) ter sonhos de amor como toda menina, moça e mulher.

E acredito que eu até consegui por um tempo. Sonhei com o amor de "um príncipe encantado montado num cavalo branco". O sonho clássico! Toda mulher tem um desses.

Mas acontece que o meu príncipe veio com defeito de fabricação. Não era encantador e nem me fez feliz para todo o sempre. Nem o cavalo era branco. Mas isso eu não liguei muito. Cavalo é cavalo.

Mas eu acho que pelo menos uma coisa devia ficar bem claro nos nossos sonhos e pedidos: "Príncipe encantado montado num cavalo branco" e não "um príncipe encantado num cavalo branco". Talvez essa clareza fizesse a diferença.

Na verdade, preciso confessar que eu também não fui lá uma princesinha indefesa. Como não tinha tamanho, envenenei bem a língua e admito que desenvolvi um senso de combate viperino para me defender.

Mas então, e o amor? Será que o matei envenenado? Onde ele foi parar nessa história? Fugiu com medo?

Bem! É isso que vim aqui lhe perguntar!

Por que o "Senhor Amor" se apresenta com tantas faces e tantas frequências diferentes? Tem pessoas que amam numa frequência tão louca e intensa enquanto outras o fazem em frequência tão baixa que o amor se torna imperceptível.

O Senhor pode até dizer que isso é normal, mas eu sou meio cética e não aceito mais esse tipo de explicação.

Também não acredito que "a culpa é do cupido" que erra o alvo e nem sempre acerta de cheio os corações. E é por isso que o amor fica assim meio que desalojado e desviado do rumo.

Na verdade eu penso que não existe cupido. E se existir, ele está mais para diabo malvado do que para anjo brincalhão.

Bem! Agora que eu já lhe disse algumas verdades sobre mim e minhas crenças, quero lhe fazer uma acusação direta:

__ A culpa da infelicidade humana é toda sua!

Devia escolher melhor os seus alvos e, principalmente, deixá-los enxergar depois que os atingir. Assim, eles poderão ver onde pisam e evitar quebrarem a cara. Como eu sempre quebrei a minha. De tão ofuscada que me deixastes todas as vezes que me fizestes enxergar amor onde nunca existiu.

Queixosamente: adriribeiro/@adri.poesias

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 06/11/2020
Reeditado em 06/11/2020
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