Meu primeiro emprego ( mentindo para o bem)

1971 tinha eu quase doze anos mina mãe me levou para fazer um teste nos patrulheiros mirins, uma instituição que trabalhava preparando garotos dando treinamento que eram ministrados por policiais militares graduados oferecendo os cursos teoricos e praticos aos garotos preparando os para o mercado de trabalho na cidade de Campinas SP.

Recebíamos um treinamento cívico militar onde nos eram passados noções básicas de comportamento e um trabalho de proteção defensiva caso fôssemos alvos de alguns malfeitores recebendo também noções básicas de um comportamento militar com ordem unida que era ministrada pelos policiais militares no pátio da instituição de segunda a sexta feira tínhamos turmas de manhã e tarde e uma vez por mês e as vezes até duas ou mais éramos reunidos aos Domingos das 8 ao meio dia onde preparavamos a nossa fanfarra com mais de cem componentes onde éramos preparados para os desfiles de primeiro de maio e sete de Setembro onde não se permitia falhas de organização nossos desfiles mereciam destaques por parte da imprensa local.

Eu quando conclui o aprendizado que durou por volta de uns seis meses fiquei a disposição tendo que comparecer todos os dias da semana prestando serviços gerais até que surgisse alguma empresa pública ou privada ou até mesmo algum profissional liberal disposto a empregar-me.

Chegou o grande dia fui chamado à sala do sargento Rabino que me entregou uma carta de aoresentaçao e o endereço do meu primeiro emprego, confesso ter sentido um frio na barriga pois não me achava preparado ainda para a missão mas resisti e rumei pra casa num misto de felicidade e medo pois eu não sabia transitar pela cidade.Chegando em casa dei a notícia a minha mãe que já se preocupou com o que eu levaria para o almoço no meu primeiro dia de serviço meu pai dormia pois trabalhava 12 horas todas as noites e aínda no período da manhã furava poços e fossas para complementar a renda pois éramos em 5 irmãos todos menores e minha mãe do lar muito embora fazia cestas de palha e vendia pra vizinhança lembro- me dá longa noite de espera passada em claro pois não admitia falhar e sabia das minhas limitações não sabia nem como fazer para embarcar sozinho em um ônibbus mas enfim amanheceu e tinha que encarar a realidade coloquei com orgulho meu uniforme azul com Keep da mesma cor um cordão amarelo ouro no ombro esquerdo e distintivo da instituição no peito sapato preto bem engraxado e meias pretas caminhava rumo ao ponto de ônibus ao lado de meu pai que foi me levar ao local de trabalho naquele primeiro dia dizendo fique atento preste bem atenção pois não venho te buscar a tarde terá que voltar sozinho e assim chegamos ao Temis Clube de Campinas que fica no bairro cambui onde me apresentei para o trabalho.

Ao entregar a documentação percebi que a secretaria levou meus documentos e mostrava-os aos demais funcionários e todos me olhavam com certo olhar de espanto, Isso já começou a me deixar inquieto achando que havia algo de errado pois os outros meninos que tinham se apresentado talvez uns quinze no total já tinham sido lecados a uma outra sala do clube enquanto eu aguardava até que finalmente saiu da sala que ficava mais reservada um senhor alto cabelos grisalhosmuito sorridente que veio em minha direção dizendo enquanto se aproximava então é você o meu quase xará eu sem entender nada respondi não sei meu senhor do que está dizendo ele certamente já percebia meu nervosismo colocou as mãos em meu ombro levando-me até sua sala. Ainda sem jeito e preocupado vi que em sua mesa tinha uma placa escrito José Roberto Magalhães Teixeira Presidente.

Foi então que pediu que eu me sentásse e com olhares mais afeuosos estendeu-me a mão e disse seja bem vindo José Roberto meu quase xará prazer em conhecê-lo eu sorrí agradecido. Perguntou -me se sabia que serviço o ia prestar ao clube respondi que não sabia ele então contou-me em detalhes a história do clube e parecia não ter pressa em terminar até que me perguntou se eu tinha ideia do que seria o maior patrimônio daquele clube , respondi sem exitar são seus associados ele arregalou os olhos e disse muito bem xará você acertou e vai ser para esses associados que fará um importante serviço você os visitará em nome do clube levando os alguns documentos que voltará na semana seguinte para buscá-los devidamente preenchidos e assinados pelo socio titular e os devolverá em nossa secretaria eu fiz sinal com a cabeça que havia entendido ele tirou do gancho um pesado aparelho preto e pediu que o troxessem duas águas e dois cafés eu ali permanecia inerte e perplexo com toda aquela cena, ao tomarmos o cafezinho ele conduziu-me novamente à secretaria dizendo se precisar de alguma coisa é só me procurar cumprimentou-me mais uma vez e saiu.

Após tomar ciência do que eu ia fazer naquele dia recebi de um funcionário um pesado pacote com muitos envelopes lacrados divididos em maços coecom etiquetas onde continham nome do associado e endereço mas não dizia se era bairro ou centro da cidade o que achei bastante estranho mas nada perguntei ja tinha entendido que era pra executar o serviço e foi o que passei a fazer sem nada conhecer numa cidade grande com um trânsito forte avenidas largas e longas que muitas das vezes só possuía um associado que morava por exemplo na Avenida das Amoreiras 6100 bloco c apartamento 401 ou seja sem elevador , não me fora disponibilizado nenhum recurso para pagamento de passagens nem me foi dito qual seria o horário de almoço ou onde almoçar lembro que nos bairros Castelo Guanabara Nova Campinas Taquaral Vila e Parque industrial esses foram os primeiros que conheci quase ue de ponta a ponta, a noitinha ao chegar em casa sem ter telefone de nenhuma espécie por perto para avisar ou pedir um socorro caso precisasse cheguei com um largo sorriso para demostrar satisfação e assim eu sabia que minha mãe iria se preocupar menos comigo, ao me perguntar sobre o servíço e se eu tinha me alimentado respondi contente o trabalho é ótimo eles servem café com leite pão com manteiga a vontade e um bom almoço e café da tarde , minha mãe vendo minha cara parece não ter acreditado mas não questionou no outro dia la estava eu pelas ruas de Campinas me valendo dos taxistas e transeuntes para encontrar centenas de endereços nos mais diversos cantos da cidade, digo que foi um aprendizado para a vida toda o trabalho era temporário e durou uns quarenta dias pois além de entregar tínhamos que voltar pra pegar os documentos e levá-los ao clube. Quanto ao bom tratamento que inventei para tranquilizar a minha mãe guardei comigo e hoje digo plagendo Ariano Suassuna a mentira é benéfica quando for dita sem prejuízo de alguém e em pról de uma boa causa.

Da série Historia é para ser contada.

De Arnor Milton

Comentário que com muita satisfação aproveito para essa interação pois é uma linda história de VIDA.

Parabéns muito gratificante ler este texto. Lembro -que em 86 recém formado e Segurança do Trabalho. Fui admitido Liceu de Artes e Ofício Em São Paulo e o Técnico da época meu superior teve que fazer um serviço externo e apenas me disse Ve até a fábrica e faça o seu serviço. Sem conhecer nada e ninguém desci sem saber o que fazer. Mas enfrentei e venci. Aposentei-me na profissão e sem falsa modéstia por onde passei deixei minha marca Vida longa saude e paz. Abraços!

J R
Enviado por J R em 27/10/2020
Reeditado em 10/04/2023
Código do texto: T7097446
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