Jeito estranho ou Carta de despedida
Há dois anos, as pessoas diziam que você não era boa pessoa, mas eu não ligava. Ao contrário, defendia, porque afinal era sangue do meu sangue. Fazia de tudo para entender seus motivos tortos, para tentar ser sua amiga, mas parecia que quanto mais eu queria me conectar mais você se afastava. Como óleo e água: a gente não se misturava. Mas eu tentava.
Tentava a princípio com desespero, depois com apatia e comiseração por mim mesma, por tentar encontrar um ponto de conexão que nos unisse além do óbvio, mas pareciam aquelas estradas que você caminha e caminha e para em lugar algum: sem fim.
Talvez eu tenha celebrado o seu nascimento. Talvez, porque não lembro. Talvez eu tenha comemorado com você em um tempo que não havia maldade e a gente se abraçava com um sentimento ainda ingênuo.
O que mudou? Foi o tempo? Foi o vento? O que te fez ter nojo de mim?
Eu já não pergunto mais. Não há respostas. Não há sentimentos.
Houve algum dia verdade em nossa relação?
Lembro de pouca coisa quando criança, mas recordo bem do seu sorriso e alegria em viver. Isso era o que mais admirava: sua risada – ela iluminava a casa toda. Eu me sentia tão feliz e afortunada por ter alguém como você ao meu lado, mas aparentemente o sentimento não era recíproco. Nossas diferenças ficaram mais acentuadas pra você chegando ao ponto de até me chamar de “estranha”, e eu me dei conta e assumi pra mim mesma que isso que éramos uma para a outra. Não sei desde quando nem como surgiu, mas fui honesta o suficiente para admitir essa verdade. Eu não sabia sua cor favorita, nem o filme que mais gostou, nem com quem deu seu primeiro beijo... o que eu sabia era desse “buraco” causado na nossa relação e que era palpável, mastigável.
Imaginava o dia que alguém viria até uma de nós e perguntaria: “É de comer?” e eu teria o prazer e o desgosto de responder: “Só se quiser se envenenar”.
Onde foi que nossas vidas se separaram? Quando deixamos de lado o que tínhamos uma com a outra?
Há três anos eu não imaginava que pudesse ser tão machucada como fui por você. E eu disse, na verdade prometi, pra mim mesma dar uma basta. Aquela situação já era mais do que eu poderia suportar, e apesar de qualquer motivo que alguém pudesse alegar eu estava oficialmente desistindo de você. Não enxergava outra opção... mas a vida e suas faces me mostraram um novo lado seu, um outro desconhecido que fez transbordar um novo amor, dessa vez mais puro, genuíno. Não deveria desistir agora. Tudo estava tão mudado...
Há um dia você me feriu novamente. Chega a ser engraçado como as pessoas que mais amamos são as que sabem exatamente onde nos ferir. Eu senti aquela ferida – que pensava ter sido cicatrizada – ser aberta de novo. Chorei e estranhei. Pensava que não havia mais lágrimas.
E aqui estou eu, repensando o ponto de partida em que tudo desandou; tentando encontrar maneiras de aplacar o incêndio que destruiu a casa ou desistir mais uma vez.
Uns diriam que a culpa é dos astros e que somos totalmente incompatíveis. Outros que já teriam matado de forma cruel, e eu só me pergunto: “Em que ponto perdemos uma a outra, irmã?”