Apesar dos pesares, feliz aniversário!

Olá, como vai? Como vai a vida? Como tem sido encarar os altos e baixos de 2020?

Você ainda se lembra do meu nome ou "me superou"?

Se me superou, leitores aleatórios lerão as seguintes palavras e espero que julguem fictícias para afastar o sentimento de vergonha, mas em todo caso, se você ainda se lembra do meu nome e embora tenha me superado, volta e meia... espera... você supera aquilo que foi ruim, se foi bom você guarda no coração e segue em frente... ou o mundo mudou tanto que pessoas são descartadas sem um pingo de piedade?

Eu não te superei, para começar.

Eu tive saída senão resgatar a dignidade e parar de escrever para alguém que jamais leria? Teria algum propósito nisso?

Porque, veja bem, a raiva me faria escrever palavras dolorosas e tem razão quem disse que o tempo é um sábio senhor porque com muita persistência ajudou-me a caminhar até aqui, até o dia de hoje, seu aniversário, para escrever, escrever palavras que brotam do coração, que se não planejei, jurei a mim mesma que as escreveria sem pensar duas vezes, não calculei o número de palavras nem nada, apenas me sentei, coloquei uma música para tocar e deixei as pontas dos dedos alcançarem a velocidade do pensamento para ser fidedigna ao objetivo porque se eu planejasse parágrafo por parágrafo ou seria prolixa ou o orgulho não me autorizaria sair da primeira linha.

Existe uma linha do tempo: ANTES DE VOCÊ - COM VOCÊ - DEPOIS DE VOCÊ.

ANTES DE VOCÊ eu era aquela moça que escrevia sobre amor com certa inocência, inocência que não mais tenho, com a esperança de que um dia alguém entraria na minha vida para me trazer aquele amor que sempre sonhei.

CONHECI VOCÊ.

A princípio, lutei muito para não sentir. Mas perdi. E minha escrita quis falar de você para pelo menos em algum lugar sua passagem pela minha vida estar registrada. Nunca me ocorreu que viveríamos o que vivemos, nunca planejei nada, nunca me aproximei com esse objetivo, nunca alimentei tamanha pretensão, entretanto, à medida que julguei ser correspondida, deixei-me cativar.

E então... DEPOIS DE VOCÊ...

Não são claras as datas, mas DEPOIS DE VOCÊ, por algum tempo, eu jurei a mim mesma que nunca mais me apaixonaria por ninguém e procurei de todo jeito enterrar aquilo que vivemos, enfatizar o lado negativo e me esquecer de que no saldo houve muita coisa boa que me ajudou nesse importante despertar de menina para mulher.

Por algum motivo, foi você.

O desencanto já me persegue há eras e por mais que eu disfarce, tem muitos pontos mal resolvidos na minha história os quais preciso resolver com maturidade para retomar a convicção de quem toma as rédeas da própria vida e abandona de vez o estigma de eterna vítima porque nesse jogo insano de dados, estamos todos de um lado ou de outro da moeda.

Teve um tempo em que te odiei sobremaneira porque era minha forma de lidar com aquela situação adversa e repleta de vácuos tão profundos que eu poderia cair (de novo) e não mais me encontrar. E o ódio não me transformou numa pessoa melhor, era apenas uma fachada para apagar do coração as dúvidas que morrerão comigo, as famosas e danosas suposições. seguimos caminhos distintos, mas ruídos na comunicação impediram o entendimento de que ainda poderia restar a amizade e o zelo.

É por isso que o silêncio dói tanto quanto a rejeição declarada, ele abre precedentes para divagações de toda espécie e elas devoram a sanidade. Não ter notícias suas me prejudicou muito mais do que saber que nossa história nunca teria um final feliz porque a "definição" liberta, permite olhar para o caminho ainda nebuloso e saber que é essa rota que se segue, já o "nada" é humilhante e incita a raiva, o orgulho, fomenta verdades que emergem de um julgamento parcial no qual o alvo dele nem sequer pode se defender das acusações ou aceitá-las.

Quando alguém entra na sua vida e vai mais longe do que os outros jamais ousaram, te dá carinho e mostra que seu corpo é desejável, é muito difícil lidar com a sensação de que você fez algo errado para receber em troca o sumiço.

Você se culpa, revive cada momento e se pergunta se seu coração estava ali ou era apenas diversão, se durante os beijos e toques havia cumplicidade, amor, consideração ou era apenas aquele desejo efêmero que da mesma forma que se manifesta também se vai.

E desejo não é amor.

Eu nem mesmo sei se sou a pessoa mais indicada a falar de amor, se criei expectativas demais, mas a verdade é que hoje falo abertamente que eu me sentia no dever de estar à sua altura e me cobrei tanto para ser famosa, persegui esse objetivo até perder totalmente a vontade de escrever, porque antes eu escrevia por amor, porque gostava de estar atarefada com os meus projetos e sendo você quem era, eu queria ter um título, algo que pudesse te impressionar porque sei que não sou bonita, por mais que você tenha beijado meu corpo inteiro e dito que eu era perfeita e me abraçasse como se quisesse me proteger do mundo, porém quando mais precisei do seu calor, eram as noites insones que eu tive que enfrentar sozinha.

Quando as pessoas destruíram minha autoestima de escritora e fizeram eu me sentir fracassada e sem atrativos para ser notada pelas editoras, eu não tive suas palavras amigas me motivando a ignorar os ataques de ódio e manter o foco, buscar lá dentro do coração um motivo justo e honesto para não me contaminar com a competitividade feroz.

Eu queria ser famosa como uma escritora aí que nem 30 anos tem e vive da escrita (na época ela tinha 24 e eu era um ano mais velha) porque queria te impressionar, te mostrar que era alguém "interessante", em quem você poderia investir sem medo, sendo que nunca te perguntei se o que te aproximava de mim era o meu jeito de ser, presencialmente, se era do meu cheiro que você gostava, da minha voz ou de algo que nem suspeite, mas nada tenha a ver com esses valores tão frívolos que me nortearam porque antes, sem me fazer de coitadinha, eu conheci pessoas que me trocaram por novinhas, por uma cor de olho mais clara, por uma amiga talarica, que não moveram um passo por mim e por muito tempo eu me odiei, me odiei de verdade, ainda não sou exemplo de autoamor, autoaceitação, entretanto, hoje me trato com mais respeito, porque antes de acordar para a realidade, eu estava presa à bolhinha do ensino médio, época em que convivi com meninos escrotos que me tratavam como lixo e faziam-me sentir indigna de ser amada, impondo critérios de beleza inalcançáveis, fazendo-me crer que a culpa de meus desencontros no amor era dos meus olhos de jabuticaba, da estatura pequena, do fato de escrever, gostar de rock e ter gostos diferentes.

Eu senti raiva quando li aqueles compartilhamentos do Facebook em que eu lia "verdades" do tipo "ninguém é tão ocupado assim, é tudo questão de prioridade" e naquele momento em que eu (ainda) não queria te odiar, que eu queria acreditar que no mundo alguém algum dia me acarinhou e me proporcionou algo que nunca mais tive, ler aquilo era levar um murro no estômago.

Eu não era sua prioridade.

Nunca fui (segundo esses gurus do amor que publicam um livro novo todo ano).

Posso nunca ter sido.

Entenda-me em partes, eu não te odeio, apenas doeu me conformar com a ideia de que você não tinha um minuto que fosse para me desejar um bom dia ou uma boa noite, que eu nunca seria como aquelas moças que vejo que estão sempre conversando no whatsapp com alguém. Talvez algum dia eu seja uma dessas moças e tudo bem não ser você, eu já superei isso, eu quero alguém que esteja disponível para me assumir e não tenha medo de se arriscar.

Um fato é que em relação à comunicação, me faltou iniciativa para ser aquela que inicia a conversa ou não a deixa acabar, reconheço que esperei demais de você. Não justifica minha falta de atitude, mas de tanto ser maltratada no passado, tenho medo de procurar pelas pessoas e levar invertidas, ter a solicitação rejeitada. Nunca foi por descaso, eu queria ter aquele canal como forma de te contar como ia a vida, eu necessitava de uma pessoa madura e sensata para me aconselhar.

Sei que hoje é seu aniversário e só queria te desejar positividade nesses tempos difíceis porque de nada adianta compartilhar sobre aprimoramento espiritual, empatia e guardar ódio.

Não, eu não odeio você.

Não sei se algum dia odiei.

Não sei se amei.

Se amei e fui amada, se amei a ideia de alguém me amar, excitante por definição.

Definitivamente, não sei.

Amor é forte.

Sou daquelas que não banaliza o sexo e é por isso que quando me lembro daquele dia me sinto sempre dividida porque eu não estava fazendo charme quando disse não estar pronta, até hoje não me considero preparada para tudo que implica o ato, compartilhar a nudez pode ser simples para você e a grande maioria das pessoas, todavia eu gosto de confiar, de ir me entregando aos poucos, de conhecer a fundo o coração de quem me toca, porque não se trata de tirar a roupa e chegar ao finalmente...

Nós trocamos energias enquanto os corpos compartilham o mesmo espaço... Não pode ser tratado com banalidade...

E eu queria ter feito a minha hora, avisado quando a vontade fosse maior do que o medo para que pudéssemos trabalhar a questão da timidez e ir com calma porque ninguém aprende a andar de bicicleta num dia, nem se torna fluente num idioma numa única aula, se levamos aproximadamente nove meses para nascermos e quatro ou mais anos para nos formarmos na faculdade, ninguém nasce sabendo fazer amor e como exigir de mim experiência que não tive? Como eu saberia o que fazer entre quatro paredes, quando tivéssemos toda liberdade para agir?

Sexo e amor estão interligados para mim.

Eu poderia honrar a fama de toda escorpiana, de ser intensa, porém não houve brecha para eu decidir nada.

Minha dúvida é se você era egoísta a ponto de não me enxergar como um ser capaz de saber o que era melhor para si e queria que tudo fosse do seu jeito, o que, aliás, sempre foi. Você nunca perguntou qual era o meu sabor de sorvete favorito, que bandas eram minhas preferidas, se eu tinha alguma superstição, nem sequer anotou o dia do meu aniversário em algum lugar, ao mesmo tempo em que parecia gostar daqueles momentos, também se resguardava em falar sobre si.

Se eu quisesse falar sobre mim mesma seria mais fácil abrir o diário, eu queria era conhecer a pessoa que estava ao meu lado, conhecer de verdade, aquelas suas histórias engraçadas e outras nem tanto, os motivos que te levaram a seguir essa profissão, se você pensava em mim, se você ao planejar o futuro me incluía.

Você pode ter sido a pessoa certa na hora errada, a pessoa certa para me mostrar por que eu precisava me gostar mais. porque era nítido que minha falta de iniciativa denotava uma autoestima extremamente baixa. O medo constante de desagradar. De perder. De perder de vista aquele raio de sol num ano sombrio. De tanto temer, perdi também o pôr-do-sol.

Talvez você foi embora para que eu pudesse conhecer alguém capaz de dar aquele amor que você não queria ou não podia. Ou se foi porque não conseguia lidar com os sentimentos que cresciam dentro de você. Ou esses sentimentos se limitam ao palpável, ao cabível e despido desejo.

Compreende agora por que o silêncio dói tanto?

Porque eu divago a fim de me confortar, porque a sua falta de resposta é pior do que a rejeição. Os danos causados pelo silêncio são feridas que volta e meia sangram.

Quando vejo um livro de romance e me recuso a ler porque sei que se um dos personagens principais tiver a mesma profissão que a sua, eu vou me comparar com a protagonista e me perguntar por que você foi embora, porque eu não fui boa o bastante para você enfrentar o mundo para ficar comigo, por que você a assumiu e na hora de decidir, apesar de todos os eufemismos, levou em consideração os sentimentos dela, então não julgue minha raiva, você não se sentiria diferente se tudo que te sobrasse fosse o vácuo e ele te desse permissão de confabular em cima dos cacos quebrados e pisoteados, porque foi nesse estado que você deixou o meu coração.

Eu já me recuperei daquele baque, sei que coração partido fere sobremaneira, impossível de mensurar a dimensão, mas não mata. Não literalmente. Os efeitos colaterais são mais perigosos. A confiança estremece. O medo de uma eventual aproximação também. Você olha nos olhos de pessoas que te olham e sentem raiva que elas te olhem, às vezes até se esconde dentro do casulo mesmo não cabendo mais lá para ninguém nunca te tirar do seu cantinho seguro, quentinho, onde você pode fingir que nada aconteceu.

Você olha para quem um dia foi e se pergunta como seria sua vida se tivesse feito outras escolhas, escolhas essas que não cruzassem dois caminhos tão distintos, se isso teria impedido a desgraça de acontecer. O medo da rejeição. De dizer aquela palavra com "a" que até hoje nunca proferi em voz alta, mas na cama, toda entregue e certa da reciprocidade, pediria para a frase ser sussurrada em meu ouvido enquanto o desejo explode na forma de um suspiro, acompanhado de um olhar profundo e um beijo que se assemelha àqueles abraços em que nenhuma das partes quer se soltar, porque é gostoso, cômodo, a sensação de que se pertence a algum lugar, que seja o coração de alguém e não um ponto geográfico específico.

Espero que você já tenha refletido sobre nós. E que esteja bem. Que você esteja bem. Porque nada mais que eu diga será de grande utilidade, eu me repetiria ou me contradiria ou exporia sobremaneira o que prefiro preservar.

O destino nos levou a tomar rumos diferentes, mas não se configura em crime desejar que você seja feliz, pelo contrário, significa dizer que apesar dos inúmeros ruídos na comunicação que facilitam os trâmites do destino, as mágoas foram sublimadas e existe dentro do meu coração o desejo de te dizer que se perdi o encanto com a escrita e hoje já estou longe de ter a inspiração de outrora, nada tem relação com o nosso envolvimento, num primeiro momento ele me encorajou, foi porque eu tentei ser outra pessoa com a intenção de te fazer ficar, pedi a Deus algo que não ou Ele não me deu porque ainda não estou madura ou porque não considera uma necessidade vital porque eu acreditava que se fosse famosa você teria orgulho de mim, por essa razão, anos depois ainda persistia em permanecer naquela plataforma de escrita, sendo xingada, maltratada, desprezada e eu vou morrer sem saber, como disse lá no comecinho dessa carta, se você gostou de mim independentemente de eu ganhar dinheiro com a minha escrita e eu me cobrei em demasia e que não foi esse o motivo pelo qual você partiu.

Não quero acreditar que você apenas se divertiu com a garotinha ingênua, boba e incapaz de dizer não, quero crer que uma infelicidade nos separou, que havia da sua parte o desejo de fazer aquela sementinha crescer dentro do coração e por tantas razões que já não importam mais, os planos (se haviam) feneceram.

Espero que apesar de todas as coisas ruins pelas quais você passou e viu, ainda tenha esperança e ame. Porque se você perder a esperança no amor, terá perdido tudo.

Apesar de todos os pesares, de muitas vezes me sentir otária por acreditar naquele amor puro, no encontro de almas em um mundo que acha que brega se apaixonar, resisto, espero, suporto as demoras todas, não porque almeje a recompensa, mas para ser capaz de me regenerar e me amar o suficiente para determinar meu lugar dentro de uma relação.

O lugar de fala.

Ter atitude.

Olhar para alguém e ter certeza de que quero ficar com essa pessoa pelo resto da minha vida, alguém com quem possa conversar sobre tudo e que daqui a 30 anos eu me imagine tomando o café-da-manhã com ela, alguém que me permita ser tão eu mesma que a nudez física seja apenas um detalhe tolo perto de ter a alma desnuda.

Ninguém nunca te despiu a alma?

A minha ainda não, mas já adianto que é a nudez mais excitante.

É quando você pode dizer que ama a outra pessoa do jeito que ela é e o afeto não só é recíproco como te ajuda a progredir, reacende o brilho no olhar e apura-o para prestar atenção nos pequenos encantos do cotidiano, esses que tornam a simplicidade tão grandiosa e agregam sentido a muitas letras de música que ouvimos.

Ver a outra pessoa como ela realmente é. Saber da imperfeição e amar as ranhuras todas. Estar com ela quando nem ela acredita em si mesma e segurar a mão, "fechar" com ela. Compartilhar mais do que a cama e as contas, sonhos, desejos, planos, uma amizade forte, sustentar a sintonia que dois olhares sedentos um do outro tem.

Hoje começa mais um ciclo na sua vida e eu desejo a você todo suporte para encará-lo e no ano que vem celebrar esse dom mais belo do que todos os outros, que permite a todos os outros, terrenos, se manifestarem, o dom da vida. Tenha uma boa vida.

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 09/10/2020
Reeditado em 09/10/2020
Código do texto: T7083847
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