Cansaço.
Perco-me eu por entre as minhas mãos. O tecido da realidade estática e moribunda se contorce e ri.
Todos os sonhos perdidos em mim levantam-se. O mar da vida vira onda fantástica e a imensidão de minha alma me iludi. E este quarto onde estou se torna apenas mais uma parte de mim.
Sinto com dedos intocáveis o teto seco de minha cabeça e o amor pelas coisas me toma.
Sou todos.
As caixas irreais da genialidade sonhada me parecem, agora, palpáveis.
Os pés da loucura me tocam o peito.
Todas as formas de vida hoje são eu e eu, dentro de minha pequena grandeza, sonho; sonho sonhos que me parecem mais reais que a vida.
Tudo me alegra e entristece, tudo me toca e me afasta de tudo. A redundância da vida hoje me parece certa e o universo me parece, hoje, apenas eu.
Através dessas linhas copiadas me acho. Talvez tudo seja imaginação translúcida e irreparável, talvez esta mesma imaginação se resuma ao nada.
As coisas são o que queremos que elas sejam.
Pedro Lino.
Ps: inspirado por Pessoa.